Estratégias de ventilação natural em projetos de interiores

Postado em 12 de julho de 2021 por

A evolução dos abrigos representa uma tendência constante em função de uma adaptação às condições ambientais. Para climas quentes e úmidos existem estratégias e soluções de projeto que são muito diferentes daquelas utilizadas em projetos localizados em climas frios e secos, por exemplo. Para cada clima há uma estratégia diferente de conforto ambiental dedicada a adequar a arquitetura às suas necessidades. Dentre essas muitas estratégias, a ventilação natural é um requisito de conforto importante para projetos localizados em climas quentes.

Essas estratégias podem se dar de diferentes formas, como ventilação cruzada, por efeito chaminé, entre outros. A escolha de como aplicar cada estratégia muitas vezes está relacionada com as escolhas que surgem no decorrer dos processos de projeto das edificações, considerando orientação, tecnologias disponíveis, localização das aberturas e muitos outros aspectos. Porém, quando pensamos em projetos de interiores e sua relação com a ventilação natural, entendemos que esse é um recurso que precisa ser potencializado, ou facilitado, a depender de cada caso. Neste artigo, selecionamos projetos de interiores que potencializam as estratégias de ventilação natural em diferentes programas.

Ao pensar em ventilação natural uma das primeiras estratégias levantadas são os elementos vazados muitas vezes utilizados nas fachadas para permitir, não somente a ventilação, mas também a iluminação natural e algum grau de permeabilidade visual, mesmo que controlada. Neste projeto do Jacobsen Arquitetura, a Residência GAF , o pavimento superior foi todo envelopado por uma pele de madeira constituída de painéis móveis e fixos estruturados por quadros metálicos. O desenvolvimento desse elemento demandou diversos protótipos e sistemas especiais de aberturas. Para além da relação com ventilação e iluminação natural, este elemento, ao ser repetido por todo o perímetro dá identidade à casa e, ao ser implementado também como divisória de ambiente, como no caso do escritório no mezanino para sala, garante ventilação e controle de permeabilidade também nos ambientes internos.

Esta outra casa, Residência VY ANH / Khuon Studio, utiliza um sistema de persianas que recobre completamente a fachada frontal da casa, aliados a elementos vazados que são dispostos em padrões irregulares, garantindo segurança, ventilação e também dando identidade para a casa. Este sistema atua como uma grelha que gradualmente é recoberta por vegetação, resultando em uma cortina verde que proporciona sombra, privacidade e conforto ambiental baseado na ventilação cruzada para os ambientes internos, criando espaços únicos dentro da casa.

A relação entre esses elementos de fachada com o interior é elevada a um extremo na Casas Casa Ninho Flutuante / atelier NgNg. Esta residência foi construída em um terreno estreito e compacto, tendo que encaixar um vasto programa e lidar com as condições ambientais locais. Dessa forma, esta casa suprime toda e qualquer parede divisória, utilizando a “vegetação” e os espaços “vazios” para separar os espaços funcionais da casa. Além disso, o brise de bambu, instalado em toda a extensão da fachada principal do edifício, não somente protege todos os espaços da casa da forte luz do sol oeste e proporciona um alto grau de privacidade no interior da casa, como também permite que a casa esteja sempre aberta e ventilada.

Essa peça de bambu se repete em diversas situações, acompanhada de tela mosquiteira, criando inúmeras cenas dentro da casa. Formalmente, ela se dobra para a cobertura, transformando-se em uma espécie de telhado que protege o espaço aberto na cobertura. Além dos elementos de bambu, chapas de aço perfuradas com padrões de desenhos de folhas servem para ampliar a proteção das áreas de varanda, sem impactar na ventilação natural dos espaços.

Quando consideramos novas construções, podemos pensar nessa relação entre os elementos de fachada e a arquitetura de interiores. Agora, ao considerar intervir a partir de uma construção pré-existente, temos que encontrar soluções adequadas para o clima que possam ser empregadas nesse cenário, e assim, garantir que a ventilação natural aconteça. Na Reforma de uma casa em San Esteban d’en Bas / unparelld’arquitectes, por exemplo, a intervenção em um espaço vazio entre duas construções resulta na instalação de três lajes metálicas que ampliam as condições de iluminação e ventilação natural das estruturas anteriores. O projeto propõe brises móveis que permitem fechar ou abrir cada uma das varandas, adaptando-as às condições específicas de cada época do ano.

Por outro lado, considerando as reformas de apartamentos, onde não é possível intervir nas fachadas, por exemplo, muito se discute sobre estratégias para otimizar a ventilação natural. Nos projetos do Apartamento 3 Zero 8 / Debaixo do Bloco Arquitetura e do Apartamento Brigadeiro / Nommo Arquitetos, a planta original se mostrava bastante fechada e dificultava a ventilação cruzada de acontecer. Em ambos os arquitetos optaram por demolições estratégicas para garantir, não só espaços mais integrados, como também uma maior circulação de ar.

Já na reforma do Apartamento 112 Sul / CoDA arquitetos, não somente opta-se por demolições estratégicas, como também decide-se valorizar os elementos vazados já pré-existentes na fachada. A redução substancial da lavanderia foi o ponto chave que possibilitou a ligação entre a cozinha e a sala, abrindo assim a vista para a fachada posterior, criando um novo protagonista do espaço: a parede de cobogó, que agora não só é visto na parede, como foi também reproduzido no teto, como forro de gesso, reforçando a ligação entre o exterior e o interior.

A ventilação natural, portanto, consegue ser valorizada nos interiores habitacionais tanto a partir das novas construções, quanto quando pensamos em reformas. Um outro desafio é considerar espaços que agrupam muitas pessoas. Normalmente, esses espaços são ventilados artificialmente, porém, a partir da busca por sustentabilidade de parte dos arquitetos atuais, alguns projetos optam por elencar estratégias de ventilação natural para interiores de espaços comerciais, como é o caso do projeto da Cantina Monteiro Ribas / PF Architecture Studio.

A obra é relativa à intervenção num edifício inserido num complexo industrial no Porto, em Portugal. O objetivo dos proprietários passava pela intervenção no edifício administrativo para introdução de um programa destinado aos colaboradores, incluindo no programa um refeitório com uma “atmosfera” que se aproximasse mais à de um restaurante. Dessa forma, criam-se vários ambientes com diferentes possibilidades de distribuição de mobiliário a partir da introdução de elementos de madeira, biombos, móveis vazados que, não somente cumprem essa função organizacional, como também garantem que as taxas de ventilação e circulação de ar do local sejam mantidas ideais.

Um outro projeto que também considera a ventilação natural para grandes aglomerações é o ANOHA—O mundo infantil do Museu Judaico de Berlim / Olson Kundig. Localizado dentro de um antigo mercado de flores existente, o coração do ANOHA é uma arca circular de madeira, medindo quase 7 metros de altura e um diâmetro de 28 metros. Para circulação de ar interna à essa arca, estratégias sustentáveis são incorporadas ao projeto arquitetônico como parte integrante da experiência do usuário.O projeto utiliza ventiladores de teto e janelas operáveis para troca de ar e a ventilação natural, mesmo em uma localidade de clima frio.

Um dos ambientes mais desafiadores para se considerar ventilar naturalmente são os ambientes corporativos. No projeto da Hayden Place / Cuningham Group o escritório, que pretende alcançar certificação LEED Gold, conta com uma série de elementos sustentáveis, dentre eles, pequenas aberturas permitem a circulação da ventilação natural através do espaço, enquanto a saída se realizará através de exaustores no lado oposto do edifício, de modo que a ventilação é conduzida para fora a partir de estímulos mecânicos. Esses dutos se integram ao projeto, sem criar grandes distrações.

Enfim, o projeto do escritório Escritórios Second Home em Hollywood / Selgascano cria, a partir de uma somatória do projeto de arquitetura com as estratégias de interiores, um ambiente radicalmente diferente daqueles corporativos que conhecemos, ao organizar os espaços de trabalho em núcleos envidraçados rodeados de vegetação. Para garantir ventilação natural internamente a cada um dos espaços, os vidros são operáveis, se abrindo para os jardins do entorno. A partir de uma estratégia bastante simples, janelas operáveis, esse projeto inusitado garante ventilação natural e aproximação da natureza para seus funcionários.

Fonte: https: www.archdaily.com.br