Qual projeto faria São Paulo ainda melhor? Arquitetos contam quais obras gostariam de ver fora do papel

Postado em 4 de fevereiro de 2022 por

No aniversário de 468 anos da capital, arquitetos refletem sobre quais propostas deveriam sair do papel para trazer maior bem-estar à população

Em 468 anos de história, a cidade de São Paulo já passou por muitas transformações. Com projetos que atraíram cada vez mais pessoas e empresas, a cidade aos poucos se tornou a maior capital do país, com grande produção industrial e, também, cultural.

Mas, neste dia 25 de janeiro em que a cidade comemora seu aniversário, convidamos alguns arquitetos para refletirem sobre a seguinte questão: qual projeto faria São Paulo ainda melhor? Entre aqueles que nunca saíram do papel, os que estão em desenvolvimento ou que ainda aguardam por alguma aprovação, qual deles faria grande diferença e traria maior bem-estar para a população?

Piscina pública sobre a Praça da República

“O projeto do Paulo Mendes da Rocha para a piscina pública sobre a Praça da República chama a atenção por alguns aspectos. Primeiro, não se trata de uma encomenda, portanto pode desfrutar de toda a liberdade para expor suas ideias como se fosse um poema, um discurso ou uma crítica – esse era seu modo de projetar e pensar a cidade.

Depois, o projeto em si é uma manifestação contra o modo usual de se pensar os espaços públicos. É a antítese da praça europeia que, de uma forma ou de outra, tenta reproduzir a natureza dentro da cidade e que muitas vezes coloca em segundo plano os desejos das pessoas – quem nunca pensou em nadar nos laguinhos da praça da República em um dia quente de verão?

Nesse projeto, Paulo usa a técnica construtiva para imaginar um pedaço do mar [de Ipanema, segundo ele] em São Paulo, só que elevado do chão. E embaixo da grande piscina, cria uma grande praça coberta para realização de festas e manifestações públicas com escala apropriada à nossa cidade. Seria, portanto, a construção da nossa praia [e tudo o que ela representa] e que ao final, faz muita falta para São Paulo. Um espaço lúdico, inclusivo e para infinitos encontros.”

Gustavo Cedroni e Martin Corullon (Metro Arquitetos Associados)

Torre Pluralista

“Ousado projeto encabeçado pelo arquiteto italiano Gaetano Pesce no início dos anos 1990, a Torre Pluralista previa um prédio residencial na região do Campo Belo, em São Paulo, onde cada arquiteto seria responsável por desenhar um andar de apartamentos duplex.

O projeto contava com nomes como Ruy Ohtake, Paulo Mendes da Rocha, Eduardo de Almeida, Marcos Acayaba, Eduardo Longo, entre outros. Seria sem dúvidas um projeto único na cidade, com nomes de peso da nossa arquitetura, trazendo bom humor, frescor e inovação e saindo da mesmice das nossas incorporações.”

Felipe Hess

Parque Minhocão

“O projeto do Parque Minhocão é fundamental para criar um novo eixo de lazer e de área verde, além de recuperar o potencial social que aquela região tem. Menos carros, menos poluição do ar e poluição sonora. Cidade para pessoas.”

Guto Requena

Parque nas marginais do rio Tietê

“Oscar Niemeyer criou um projeto urbanístico para as marginais, sob encomenda da administração municipal de Jânio Quadros, em meados dos anos 1980. O projeto proposto era extraordinário: recuperava a várzea do rio Tietê desenhando um parque fluvial – ou parque linear, como hoje denominamos – deslocando a pista expressa da margem do rio para onde originalmente se estabelecia o limite da várzea.

O projeto não foi implantado, provavelmente, devido ao custo das desapropriações, mas um debate atual deve considerar que a ação de apropriação e ocupação das várzeas é a própria origem dos problemas na área das marginais. A discussão sobre o projeto deveria ser retomada, ao menos como paradigma, no contexto do debate sobre a limpeza e requalificação paisagística e urbanística dos rios Tietê e Pinheiros, necessidade e desejo de todos os paulistanos.”

Mario Biselli (Biselli Katchborian Arquitetos Associados)

Projeto de candidatura para sede das Olimpíadas de 2012

“No aniversário da cidade, penso no projeto desenvolvido pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha para a candidatura de São Paulo como sede das Olimpíadas de 2012. Apesar da especificidade do evento, esse projeto é notável porque foi pensado a partir das obras já planejadas para a cidade, especialmente na melhoria do transporte público e limpeza dos rios.

O projeto organizava todo o programa (ginásio, piscina, vila dos atletas, vila de mídia, etc) nos eixos dos principais rios da cidade (Tietê, Pinheiros e Tamanduateí), considerando os rios limpos e navegáveis. Solução contrária às principais sedes de Olimpíadas, nesse caso todos os equipamentos se distribuíam pela cidade, valorizando esse maior patrimônio ambiental que orientou a fundação e crescimento de São Paulo, os rios.

O interessante da proposta do Paulo Mendes da Rocha é o olhar para a cidade como um todo, e foi desenvolvido por uma grande equipe da qual tivemos o prazer de participar.”

Fernanda Barbara (UNA BV)

Museu Aberto Cratera de Colônia

“O projeto que eu gostaria que saísse do papel em São Paulo é o Museu Aberto Cratera de Colônia, feito por Levisky Arquitetos Estratégia Urbana em 2014 para a Prefeitura de São Paulo. Um parque com escala metropolitana, com 2,5 milhões de metros quadrados (o que significa 1,5 Parques do Ibirapuera!). Esse Museu Aberto está localizado no extremo sul da capital, em Parelheiros, junto à represa Billings, e é reconhecido como patrimônio Ambiental e Cultural.

Imagine que o tombamento dessa área se dá pela existência de uma verdadeira cratera – a Cratera de Colônia –, uma depressão geológica que gerou uma deformação de grandes dimensões no solo como poucas existentes no mundo. Temos uma no extremo sul da cidade de São Paulo que, certamente, pouquíssimas pessoas conhecem. É um patrimônio incrível!

E a solução criada foi exatamente no sentido de associar soluções possíveis de acomodação dos nossos patrimônios naturais e culturais com questões de interesse público essenciais, como de regularização fundiária e habitação de interesse social.

O Museu Aberto Cratera de Colônia foi a maneira que encontramos de viabilizar a regularização de uma área hoje irregular e, ao mesmo tempo, entregar à cidade um parque metropolitano carregado de percursos temáticos com histórias interessantíssimas e experiências que o paulistano poderia ter dentro dessa nossa cidade maravilhosa e nem imagina!”

Adriana Levisky (Levisky Arquitetos Estratégia Urbana)

Parque dos Arcos

“O Parque dos Arcos é um parque urbano que idealizamos no complexo viário das avenidas Rebouças, Consolação, Dr. Arnaldo e Paulista, que utiliza o grande complexo como espaço para de esportes urbanos como o skate ou o parkour, além de trabalhar com várias travessias. Trata-se de um projeto que ocupa infraestruturas rodoviaristas da cidade e transforma a antiga lógica da cidade através da ocupação desses espaços, com áreas verdes dedicadas ao pedestre.”

Marina Acayaba (AR Arquitetos)

Novo Sesc Parque Dom Pedro II

“Um projeto que faz muito sentido sair do papel seria o novo Sesc Parque Dom Pedro II, desenvolvido pelo escritório UNA Arquitetos, com inauguração prevista para 2025. Foi um projeto que gerou bastante polêmica desde a demolição do antigo edifício São Vito (1959), que por muitos anos foi um marco arquitetônico modernista para a cidade.

O novo Sesc Parque Dom Pedro II será muito importante para a revitalização do bairro do Brás, devido à carência de atividades culturais e sociais na região. Além de ser um lindo projeto, o edifício contará com inúmeros espaços de convivência e atividades ao ar livre, gerando um grande convite para a inclusão no centro da cidade.”

Murilo Gabriele (Estúdio BG)

Preservação e renovação do bairro Bexiga

“Nos últimos anos, o interesse na discussão sobre as cidades ganhou maiores proporções. Novas formas e ocupações de espaços públicos, somados a manifestações contra projetos de caráter privado ou excludente, transformaram as discussões sobre o direito à cidade. A preocupação com o patrimônio urbano está intrinsecamente relacionada à essa questão.

O Concurso Nacional de Ideias para a Preservação e Renovação do Bairro Bexiga, realizado entre 1989 e 1992, apresentou-se como uma proposta inovadora dentro das políticas urbanas, possuindo como singularidade a participação da população diretamente afetada. Alguns pontos desse concurso foram importantes, mesmo que não realizados, por permitirem pensar políticas públicas em termos de continuidade e descontinuidade, e não como ruptura ou abandono, revelando descontinuidades no papel do Estado na gestão de território e continuidade na interpretação do próprio bairro e entorno do Bexiga.

Nenhuma das três propostas apresentadas foi executada, mas as ideias influenciaram outras propostas e projetos posteriores. Um marco para a cidade de São Paulo e para o bairro Bexiga que abriga um conjunto de arquitetura e etnias.

As propostas elaboradas:
Parque da Grota – pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha com consultoria de Flávio Motta. O projeto tinha como premissa a manutenção da população do bairro, incentivo para atividades culturais e novos critérios de ocupação de solo.

Revitalização da Vila Itororó – encabeçado por Benedito Lima de Toledo com participação de Aracy Amaral e Roberto Burle Marx. A proposta transformaria a Vila Itororó em um centro cultural.

Intervenção na rua 13 de Maio – elaborado pelos arquitetos Dalton de Luca e Ricardo Ohtake. Duas praças que serviriam de passagem e conexão entre ruas e, ao mesmo tempo, como um teatro ao ar livre.”

Mariana Schmidt (MNMA Studio)

Fonte: Casavougue