Gestão de ativos imobiliários é novo filão de negócios

Postado em 19 de julho de 2022 por

Empresas oferecem um leque de serviços após a entrega das chaves, reduzindo o impacto financeiro causado por variações da demanda

A gestão de ativos residenciais com soluções para toda a cadeia imobiliária é o mais novo filão de negócios do setor de incorporação no Brasil. Expostas a diversos cenários econômicos no decorrer do longo ciclo de construção de seus empreendimentos, empresas buscam amenizar o impacto financeiro causado pelas variações da demanda com a oferta de serviços pós-entrega das chaves.

A construtora SKR criou um setor específico para atuar nesse segmento: o SKR Viva. A proposta é assumir a responsabilidade pelo ativo imobiliário como um todo, da incorporação do terreno até a locação da unidade, informa o head de Asset e Property Management, Rubens Taragona. “Queremos aprimorar ainda mais a experiência do cliente”, diz.

O sofisticado condomínio Latitude, na região do Campo Belo, em São Paulo, é o primeiro empreendimento gerenciado dentro do novo modelo. Lançado no ano passado, conta com uma torre de estúdios de 25 metros quadrados e com unidades maiores, de 154 metros quadrados e três suítes. O VGV é de R$ 100 milhões, e o preço de comercialização está em torno de R$ 15 mil o metro quadrado.

Segundo Taragona, o morador do Latitude poderá gerenciar sua experiência de dentro do condomínio, como o controle de entrada e saída de visitantes, entrega de encomendas e comunicação com moradores e funcionários, além da locação de serviços compartilhados como bicicletas, carros e patinetes, entre outras tantas funcionalidades. Para isso, a SKR firmou parceria com o aplicativo de serviços Apepê — uma plataforma de ativação e integração condominial que conta com gestão de portaria, serviços de lavanderia e limpeza, entre outros.

A incorporadora Vitacon é outra que também vem fazendo uso da tecnologia para conectar o ativo imobiliário ao consumidor final, disponibilizando em seus empreendimentos as principais inovações nesse segmento. “Nossa visão vai muito além do mercado tradicional, cuja proposta é simplesmente vender um imóvel ou um metro quadrado. Vendemos mais tempo e qualidade de vida”, afirma Ariel Frankel, CEO da companhia. A gama de serviços ofertados vai da administração de condomínios à gestão de ativos imobiliários para renda.

Segundo Frankel, para atuar no segmento voltado exclusivamente para os moradores, a incorporadora criou a Housi, primeira plataforma de serviços de moradia por assinatura no Brasil. “A proposta é transformar o mercado imobiliário em algo simples e fácil, seja para comprar, alugar ou investir”, afirma. Por meio da plataforma, é possível planejar o imóvel como investimento ou como moradia.

“O cliente pode alugar um apartamento por um ano, seis meses, um mês ou uma semana. É ideal para quem comprou o imóvel pensando em usá-lo parte do tempo e em buscar rentabilidade quando não está em uso, por exemplo”, explica Frankel, acrescentando que, além da gestão de decoração e de locação, a Housi também presta serviços para terceiros e fatura atualmente algo muito próximo do resultado da Vitacom.

‘MULTIFAMILY ‘

Os prédios administrados dentro do conceito multifamily têm apenas locatários, de modo que a empresa mantenha sob controle as mudanças que precisem ser efetivadas na operação e para não haver distinção entre os moradores que compraram unidades e os que alugam. Segundo o empresário, o compartilhamento de automóveis é o principal serviço que diferencia a Housi da concorrência — além das áreas comuns equipadas com lavanderia, coworking profissional, biblioteca e sala de convivência.

No segmento voltado para os investidores imobiliários, a oferta de serviços da Vitacom para potencializar a rentabilidade dos ativos residenciais vai desde o pagamento de contas e manutenção dos apartamentos até a gestão de todas as locações flexíveis. “Nossa proposta é oferecer aos investidores mais praticidade, precisão e transparência na administração de seus ativos”, diz Frankel.

Na sua avaliação, o gerenciamento de ativos imobiliários no país ainda está em desenvolvimento, mas o mercado apresenta excelentes perspectivas de crescimento. “Hoje, já temos fundos internacionais investindo nesse segmento, e outras empresas estão seguindo o mesmo caminho. Nos países mais evoluídos, o residencial com esse objetivo de renda já é o maior mercado”, destaca ele.

‘Build-to-rent’: mercado em franca expansão no mundo

Demanda mundial deixa claro que a geração de 25 a 40 anos de idade acha mais prático e vantajoso alugar do que imobilizar capital na compra de imóvel

Nos quesitos oferta de serviços financeiros e serviços condominiais, o segmento de mercado de gestão de ativos residenciais no país está pari passu com o norte-americano. A afirmação é do diretor de Capital Markets da JLL, André Rosa, para quem os investimentos em tecnologia e automação realizados pelas incorporadoras brasileiras são os principais responsáveis pela redução do gap observado no passado em relação ao desenvolvimento de empreendimentos multifamily nos Estados Unidos.

Mas ele adverte que a gestão de ativos no segmento residencial é apenas parte de um mercado em franca expansão em âmbito mundial: o build-to-rent (BTR, ou construir para alugar, em tradução livre), que engloba ainda os segmentos senior living e student living. Na sua avaliação, o mercado BTR se expande em todo o mundo impulsionado por dois fatores: necessidade e mudança de comportamento.

Segundo Rosa, nas faixas de público a partir do alto padrão, o crescimento da demanda é motivado exclusivamente pelo entendimento da geração entre 25 e 40 anos de idade de que morar de aluguel pode ser mais prático e vantajoso do que imobilizar capital na compra da casa própria.

“De fato, o brasileiro gostava de ter imóvel próprio e pagava juros altos por isso, apenas para ter um bem em seu nome. Mas, hoje, esse paradigma vem sendo quebrado”, afirma.

De acordo com Thiago Duarte, gerente de Capital Markets da JLL, em âmbito global, o setor BTB teve um grande impulso a partir do primeiro trimestre de 2021. Período no qual os investimentos em empreendimentos multifamily, senior living e student living registraram um aumento de 44%, chegando a US$ 83 bilhões.

Fonte: Valor