Postado em 1 de dezembro de 2020 por sn-admin
Catarinenses relatam os desafios enfrentados em suas profissões com a crise do coronavírus
Os processos seletivos, as habilidades exigidas, o ambiente onde os colaboradores atuam: diversos aspectos do mercado de trabalho foram alterados com a pandemia do novo coronavírus. No início, empresas e colaboradores se assustaram com as inúmeras demissões por conta da quarentena que obrigou o fechamento de serviços para conter a disseminação da Covid-19. Aqueles que não perderam seus empregos precisaram adaptar-se a uma realidade de trabalho muito diferente da habitual. Outros se viram em um cenário completamente novo de busca por oportunidades.
Nesse contexto, a tecnologia foi e continua sendo uma importante aliada. Antes era difícil imaginar que tantas profissões poderiam ser exercidas de forma remota, ou ainda que seria possível começar a trabalhar em uma nova empresa sem mesmo conhecer sua sede ou aqueles que trabalhariam com você. Esse é um dos desafios que os brasileiros continuam enfrentando neste ano, e que nos fez conhecer muito melhor o termo “home office”.
O caso de Juliano Vital, por exemplo, mostra como esse regime vem ocorrendo no país. Ele mora em Minas Gerais e recentemente foi contrato pela Asaas, uma empresa com sede em Joinville, para trabalhar como gerente de contas. Ele afirma que todo o processo foi on-line, desde a seleção até a contratação, e enxergou nesse sistema uma grande vantagem.
— Para mim, essa experiência foi ótima. Quando estamos desempregados, manter o custo de deslocamento até a empresa nem sempre é viável. Muitas das vezes vamos até lá, gastamos um dinheiro essencial que não podemos desperdiçar, e não temos nem o retorno do processo seletivo que fizemos. Hoje, fazer tudo de forma on-line é uma maneira de favorecer o candidato no momento em que o mesmo se encontra sem remuneração. Outro ponto positivo é que com a seleção toda a distância, abre-se também leque de oportunidades a nível nacional – destaca.
Home office traz benefícios e desafios
Renato Navas trabalha como head de people science da startup Pulses e destaca que as situações pelas quais as empresas estão passando nesse período são importantes pois estimulam as adaptações às necessidades do mercado e a busca por inovação. Porém, ele destaca que cada um deve avaliar se o modelo totalmente à distância faz sentido para a realidade em que se encontra.
— Foi observado por muitas empresas o aumento da produtividade e engajamento das equipes no home office, muito por conta da flexibilidade de horários que o trabalho remoto permite. Mas esse regime traz também desafios, como manter a efetividade do aprendizado organizacional, já que nem todos os treinamentos on-line são efetivos para todos os tipos de perfil.
Contratada pela Kyte, outra startup catarinense, durante a pandemia, já em isolamento e morando em outro Estado, Gabriella Senra confessa que se acostumou facilmente ao modelo de trabalho, à nova função e aos colegas de equipe.
— Hoje em dia temos muitas ferramentas para nos conectar e comunicar, e sinceramente não senti muita diferença. Claro que será muito legal conhecer pessoalmente a equipe, porém já me sinto muito próxima de todos. Estamos constantemente nos comunicando durante o trabalho, então a experiência é muito parecida com a presencial. E eu estou adorando trabalhar home office, me dá muita qualidade de vida e mais desempenho na minha função.
O uso da tecnologia no ambiente profissional em diversas áreas é uma realidade, mas Juliano destaca um ponto importante que também pode ter impacto em nossas vidas: a diminuição da sociabilidade.
— É uma experiência muito nova não ter o contato com as pessoas que passamos boa parte dos nossos dias “juntos”. Hoje eu conheço todos apenas pela tela do computador [risos]. Não vejo como algo negativo, mas diferente. Com o avanço da tecnologia acho que a tendência é que as pessoas fiquem cada vez mais reclusas.
Muito além do home office, esse período trouxe também uma nova visão para todos os setores na hora de contratação. Para as empresas, novas características dos candidatos passaram a ser observadas, enquanto para os concorrentes à vaga o fato de estar em um ambiente pessoal pode fazer toda a diferença.
— Eu fiquei muito confortável com o meu processo seletivo. Estava dentro de casa: de short, chinelo e camisa. O nervosismo para mim foi bem menor, pois, estar fazendo uma entrevista do seu lar traz uma sensação de ter mais segurança, sabe? É a sua casa e você se sente mais acolhido – revela Juliano.
Inovação e resiliência são valorizadas na contratação
Entre os atributos buscados por muitos recrutadores estarão, a partir desse momento, a inovação, desenvoltura e resiliência para buscar novas formas de se trabalhar e enfrentar desafios imprevistos usando recursos existentes, explica Renato. O autocontrole para saber lidar com mudanças e instabilidades, saber se planejar e organizar bem, e a facilidade na utilização e aprendizagem de recursos tecnológicos certamente também serão soft skills ainda mais valorizadas.
Soft skills” é um outro termo trazido do inglês que ganhou ainda mais importância no mercado de trabalho neste ano e são um exemplo de como a pandemia pode ter impactado esse processo de seleção de novos colaboradores.
— As soft skills dizem respeito às habilidades que envolvem relação e interação com os outros, bem como consigo mesmo. Ou seja, estão relacionadas com o comportamento humano, indo além da formação profissional e habilidades técnicas das pessoas. Por isso, essas habilidades ganharam destaque neste ano, pois todos tiveram que se adaptar e desenvolver, aprimorar ainda mais competências como flexibilidade, comunicação, colaboração, resiliência e criatividade, por exemplo – explica Renato.
Em um ano tão incomum em diferentes áreas das nossas vidas, 2020 deixa lições importantes que irão repercutir no mercado de trabalho e trazer uma nova realidade a ser aproveitada tanto por empresas, quanto por quem busca uma vaga.
— A lição que eu tiro para mim durante toda essa experiência é que não importa o contexto que você esteja, uma oportunidade sempre pode surgir. E talvez um momento que não seja bom para o outro, pode ser o melhor da sua vida. Veja, eu estava há quase um ano procurando uma oportunidade, e no pior cenário econômico, social e político, eu consegui um trabalho a mais de 700 km de distância – diz Juliano.
— Acredito que a pandemia, se assim estivermos dispostos a olhar, está sendo uma grande oportunidade de ressignificar crenças limitantes sobre encontrar possibilidades. A frase “não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”, de Jean Cocteau, nunca foi tão verdadeira – conclui Renato.
Fonte: NCS Total