Interiores biofílicos: 21 projetos que misturam arquitetura com natureza

Postado em 23 de fevereiro de 2023 por

Os humanos são programados para responder positivamente à natureza; o som crepitante do fogo, o cheiro de chuva fresca no solo, as características medicinais das plantas e da cor verde, a proximidade dos animais etc. Isso, junto com as condições ambientais críticas de hoje e a rápida urbanização, mudou o foco dos arquitetos para projetos ecologicamente conscientes que aproximam as pessoas da natureza. Eles exploraram várias abordagens: estruturas de taipa, materiais e móveis reciclados, projetos guiados pela luz solar… A prática foi tão impulsionada pela onda verde que as linhas se confundiram entre o que é verdadeiramente sustentável e ecológico e o que é greenwashing. Mas o que proporcionou a conexão biológica mais inata com a natureza foi a biofilia e o ato de “trazer o exterior para dentro” através do design.

Por definição, o design biofílico promove o bem-estar incorporando elementos que estabelecem uma relação coerente entre a natureza, a biologia humana e o edifício – fisicamente, visualmente e emocionalmente. Isso inclui o uso de materiais naturais, incorporação de vegetação, abundância de luz natural e abertura de espaço para ventilação natural. A aplicação bem-sucedida dos princípios do design biofílico estimula um amplo espectro de benefícios físicos, mentais e comportamentais. Os benefícios físicos incluem melhor condicionamento físico, pressão arterial mais baixa e menos sintomas de doenças. Os benefícios mentais incluem motivação, produtividade, criatividade e diminuição do estresse e da ansiedade. Mudanças comportamentais e cognitivas incluem aprimoramento da habilidade de lidar com problemas, maior capacidade de atenção e aumento na interação social.

Durante décadas, cientistas, pesquisadores, arquitetos e designers têm explorado de forma colaborativa como utilizar os aspectos da natureza que são mais impactantes em nosso relacionamento com o ambiente construído. Muitos teóricos organizam os princípios do design biofílico em três categorias: natureza no espaço, natureza do espaço e análogos naturais, sendo que todos determinam uma conexão física, visual e emocional com o mundo natural. Essa estrutura, no entanto, vai além de materiais, luz e ventilação, os quais contribuem significativamente para os espaços biofílicos. O design biofílico eficaz permite que a terra seja a própria arquitetura, ou pelo menos uma grande parte dela. O que muitas vezes parece ser esquecido é que também é um design local, o que significa que a arquitetura não deve apenas se misturar com a natureza, mas também com o entorno do próprio projeto.

Veja como os arquitetos priorizaram o bem-estar humano e reforçaram a biofilia e a relação entre a natureza, a biologia humana e o ambiente construído através de 21 projetos de nosso banco de dados.

Seleção do material
Diante da crise ambiental e do foco no bem-estar, os arquitetos recorreram a uma arquitetura com consciência ambiental a fim de provocar uma mudança na prática atual, começando com os materiais com os quais os projetos são construídos. Por milhares de décadas, a Terra e seus recursos foram usados para construir estruturas monumentais que resistiram ao tempo. Mas foram estudos recentes que provaram como o uso desses materiais também cria respostas cognitivas e fisiológicas positivas. Com isso, os arquitetos voltaram a extrair materiais do terreno através de processos minimalistas, refletindo a geologia local para estabelecer autenticidade e um senso de lugar, além de promover a arquitetura voltada para a sustentabilidade.

Natureza dentro do espaço
Uma das maneiras mais proeminentes e comuns pelas quais os arquitetos integraram elementos biofílicos em seus projetos de interiores é através de vegetação, água e elementos de fogo. Os benefícios do paisagismo, ou incorporação de plantas em interiores, são ilimitados. Em termos de design biofílico, no entanto, as plantas não são escolhidas arbitrariamente, e sim com base nas condições climáticas, características geográficas e disponibilidade para garantir que o interior seja autenticamente único com seu ambiente. Vários estudos também mostraram que ver, ouvir ou tocar a água reduz o estresse, aumenta a tranquilidade e a concentração e diminui a frequência cardíaca, levando os arquitetos a instalar paredes de água, aquários, lagoas em miniatura, fontes e pequenas correntes.

Iluminação
Hoje em dia, sobretudo após as recentes alterações na dinâmica de trabalho, passamos a maior parte do tempo dentro de salas iluminadas com uma mistura de luz artificial e natural. No entanto, todas as possibilidades e flexibilidades de design que a luz artificial oferece ainda não substituíram a maneira como o corpo humano responde à luz natural, nem o quanto ele precisa dela para funcionar corretamente. O ritmo circadiano de um ser humano, ou o ciclo biológico de 24 horas, é influenciado principalmente pela recepção da luz, seguida pela temperatura e outros estímulos. Estar fortemente exposto à luz artificial, especialmente à noite, altera o relógio biológico do corpo e afeta a produtividade, o apetite e os níveis de energia. Como resultado, os arquitetos priorizaram a iluminação natural e garantiram que as características da luz artificial fossem quase idênticas a ela. As características biofílicas da luz englobam também as variações de luz e sombra, e como suas intensidades e a forma como se complementam em um espaço afetam o conforto visual dos usuários.

Fluxo de ar
Quando se trata de circulação de ar e conforto térmico, a biofilia pode ser caracterizada como um complemento das qualidades variações de temperatura e umidade. Idealmente, a qualidade do ar deve proporcionar conforto e vitalidade, bem como dar aos utilizadores a possibilidade de ajustar as condições térmicas, de forma manual ou automática, de acordo com suas necessidades e preferências.

Acesso físico e visual à natureza
Para estabelecer ainda mais a conexão com a natureza, os arquitetos construíram projetos com interiores em conexão direta com a paisagem ao redor, fisicamente e visualmente. Essa zona cinzenta entre a arquitetura e o local onde ela se encontra limita a impressão de que foi “feito pelo homem” e promove uma sensação de abertura e liberdade, permitindo que a arquitetura e a natureza se tornem uma só.

Biomimética e formas orgânicas
Junto com intervenções naturais e os materiais de construção, formas e texturas orgânicas/biomórficas dos padrões encontrados na natureza também servem como grandes referências. As curvas, por exemplo, já dominam as tendências de design de interiores nos últimos dois anos, mas na verdade surgiram há séculos, quando os arquitetos encontraram inspiração na natureza a partir das linhas assimétricas de flores e animais. E como a psique humana prefere objetos visuais curvos porque sinalizam falta de ameaça, a expressão arquitetônica de formas orgânicas no design de interiores foi traduzida em móveis, iluminação, têxteis, divisórias e motivos de parede.

Organização e disposição espacial
Em termos de arquitetura de interiores e circulação, a biofilia é a adoção dos padrões espaciais encontrados na natureza e sua interpretação enquanto configuração de um espaço interno. O objetivo por trás desses padrões é priorizar o bem-estar dos usuários, especialmente se for um local desconhecido para eles. Em cenários assim, a mente humana muda automaticamente para o modo de sobrevivência e procura um lugar que ofereça segurança e proteção “do desconhecido”, semelhante à forma como os animais reagem em paisagens abertas. Esses padrões espaciais podem ser vistos arquitetonicamente como zonas de refúgio, áreas abertas ainda protegidas e espaços intermediários de transição, que reduzem os níveis de estresse e irritação e provocam uma sensação de proteção, criatividade e exploração.

Fonte: Archdaily