Postado em 24 de outubro de 2023 por sn-admin
Por muito tempo, a sustentabilidade foi vista como sinônimo de tecnologia no meio arquitetônico. A eficiência era diretamente relacionada a aparatos tecnológicos inovadores que cobriam as edificações de parafernálias. Hoje em dia, entretanto, o conceito de sustentabilidade abrange cada vez mais diferentes estratégias que estão relacionadas também ao reconhecimento de técnicas vernaculares e materiais locais como primordiais para a criação de edificações sustentáveis e neutras em carbono.
No entanto, independente da técnica ou dos materiais utilizados, o denominador comum é a busca pela diminuição da pegada de carbono de nossas arquiteturas, uma situação que exige mudanças na forma como os edifícios são concebidos, construídos e operados. Ou seja, retornar ao vernacular ou utilizar o aplicativo de última geração são estratégias que, apesar de muito diferentes, desejam chegar a este mesmo lugar e, por isso, são igualmente válidas.
A inteligência artificial (IA), particularmente, tem causado uma revolução no nosso modo de habitar há algumas décadas, começando discretamente pelos acionamentos automatizados de iluminação, segurança e demais eletrodomésticos, até chegar a cálculos precisos sobre a eficiência energética da edificação. Com isso, a IA vai mais além, sendo implementada para compreender melhor tanto a eficiência energética de um edifício como para entender a forma como a sociedade interage com a estrutura e como a própria estrutura interage com o meio ambiente.
Os exemplos de aplicação da IA para a descarbonização da arquitetura começam desde a etapa de concepção projetual quando são fornecidos dados preciosos para uma melhor otimização do espaço e geração de conforto térmico. Na prática, a inteligência artificial pode se aliar a técnicas de design passivo para otimizar a orientação do edifício, o tamanho das janelas e o sombreamento, maximizando a luz natural e a ventilação, por exemplo. Sendo assim, o design passivo baseado na IA pode auxiliar na criação de edifícios naturalmente eficientes em termos energéticos, reduzindo o consumo de energia e as emissões de carbono. Além disso, os algoritmos de IA podem analisar e sugerir escolhas ideais de materiais com base em critérios de sustentabilidade, considerando fatores como pegada de carbono, reciclabilidade, durabilidade e eficiência energética.
Estudos afirmam que a construção civil é responsável por cerca 1/3 das emissões globais dos gases de efeito estufa, neste sentido, diferentes frentes estão sendo desenvolvidas para lidar com a situação e a IA é uma delas. À vista disso, além da concepção projetual, na etapa de construção, a inteligência artificial tem se mostrado em constante evolução para viabilizar estratégias que enfatizem a diminuição da pegada de carbono das edificações. Softwares estão sendo testados para reduzir as emissões provenientes da produção de cimento e aço, por exemplo, otimizando a combustão de combustível em fornos de cimento e siderúrgicos, reduzindo a proporção de clínquer no cimento. Ademais, a IA tem contribuído para otimização das misturas de concreto a fim de reduzir sua pegada de carbono e para aceleração da descoberta de novos materiais em geral.
Contudo, além das contribuições da IA para a descarbonização da arquitetura no processo projetual e nos aspectos construtivos, é possível perceber um grande avanço também na adequação e no funcionamento cotidiano dos edifícios.
Quando se fala em descarbonização na arquitetura, a eficiência energética é, de fato, um ponto crucial. De acordo com a Agência Internacional de Energia, manter os edifícios em funcionamento contribuiu com cerca de 26% das emissões globais de gases com efeito de estufa relacionadas com a energia em 2022. Neste sentido, o apelo feito pelas empresas que lidam com a inteligência artificial é claro: “se você não consegue medir o que importa, não pode fazer a mudança.” Com isso, defende-se a ideia de que a IA deve ser usada para mapear os padrões históricos e hábitos diários dos ocupantes para ligar ou desligar aparelhos, dando “vida” ao edifício na medida em que torna a arquitetura reativa e adaptativa em relação ao seu entorno.
Com um sistema integrado de sensores, por exemplo, é possível controlar com maior precisão o aquecimento e arrefecimento dos ambientes, assim como ajustar a iluminação e outras atividades similares relacionadas à energia, ajudando a reduzir 20% ou mais no consumo energético anual. Os resultados são realmente promissores, contudo, é importante ressaltar que a IA funciona essencialmente com base em dados, e se estes não foram coletados de forma correta — com sensores mal posicionados ou em quantidade insuficiente — de nada adianta todo o aparato tecnológico.
Além desses exemplos, a aplicação da IA na arquitetura pode ser vista em muitos outros aspectos, entretanto, independente da maneira ou em qual etapa a inteligência artificial é aplicada, é fundamental ter em mente de que não se trata de nenhum tipo de mágica, mas sim, de um software criado pelo próprio ser humano para auxiliar em decisões cruciais que poderão levar a descarbonização da arquitetura. Com certeza, não iremos salvar o planeta com um software de inteligência artificial, entretanto, ele pode ser uma ferramenta fundamental para completar esse quebra-cabeça.
Fonte: Archdaily