Novos escritórios de arquitetura latino-americanos que fazem mais com menos

Postado em 11 de junho de 2024 por

Jovens práticas latino-americanas têm provocado mudanças de paradigmas no âmbito arquitetônico ao instigar uma nova abordagem da profissão perante a sociedade. São explorações desenvolvidas a partir do risco, que surgem da proximidade afetiva e de uma compreensão aprofundada do contexto, nascendo de referências próximas como a geografia, os materiais e os recursos disponíveis. Com identidade própria, essas práticas tomam certa distância da herança moderna, que continua forte no meio, trazendo soluções autênticas e inovadoras para lidar com o cenário desafiador.

No esforço em driblar dificuldades como a falta de investimento financeiro, a escassez de recursos materiais e a pouca valorização profissional, esses escritórios da América Latina têm explorado maneiras pelas quais é possível criar um novo futuro dentro da arquitetura, desenvolvendo modelos econômicos alternativos ao aventurar-se em projetos reais com estudantes, usuários e os próprios arquitetos participando da construção.

Como parte do tópico do mês no ArchDaily, Fazer mais com menos, selecionamos sete práticas latino-americanas que se destacam no contexto nacional e internacional por retratarem novas perspectivas em relação a disciplina e ao papel social e ambiental do arquiteto, desenvolvendo projetos inovadores que tratam a escassez como oportunidade para se reinventar.

Ruína
RUÍNA é um estúdio de arquitetura com sede em São Paulo, Brasil, focado no contexto local e no baixo impacto ambiental, com projetos que respeitam os recursos materiais e garantem maior agilidade, eficiência e economia. Partindo das ruínas, o escritório incentiva a reutilização como uma alternativa para a indústria da construção civil, criando novas possibilidades para materiais recuperados, reduzindo a quantidade de resíduos de demolição e, com eles, fornecendo materiais de construção com um menor impacto ambiental. Por meio de um processo circular, a equipe traça estratégias de reaproveitamento, de modo que os materiais retornem à função original ou sejam incorporados a uma nova utilidade, entendendo assim a própria cidade e suas arquiteturas como fontes de recursos.

Natura Futura
Como um coletivo de arquitetura equatoriano, Natura Futura convida a refletir sobre o modelo de produção arquitetônica vigente, criando uma arquitetura que responde às necessidades do contexto ambiental, mas também humano. A inclusão da comunidade no processo de projeto e obra é fundamental para que suas edificações tenham um impacto social positivo, alimentando também outras diretrizes importantes do grupo como o desenho sustentável gerado a partir de materiais naturais e locais, com baixo impacto e uso de mão-de-obra da região.

Alsar Ateliê
O escritório de origem colombiana surgiu durante a pandemia de COVID-19 na cidade de Bogotá focando em projetos inovadores e acessíveis como respostas aos problemas urbanos persistentes no Sul Global. Para driblar a falta de recursos financeiros, condição presente na maioria das cidades da América Latina, o próprio ateliê assume o papel de investidor nos projetos. Com isso, a atuação que começa ao mapear e estabelecer contato com a comunidade necessitada, conta com um processo de projeto colaborativo e culmina na articulação de organizações, instituições educacionais ou doadores privados para angariar fundos.

Infraestudio
Infraestudio é uma prática radicada em Havana, Cuba. Ao tangenciar arte e arquitetura, o escritório cria projetos que se destacam em um contexto divido entre a informalidade da prática privada e a escassez de recursos públicos. Na última década, a equipe tem colocado a arquitetura cubana contemporânea no mapa com projetos que observam seus contextos específicos, mas ao mesmo tempo, são capazes de ir além da realidade imediata e do tempo em que vivem, lidando com as limitações governamentais e a falta de recursos econômicos e materiais de forma criativa.

Al borde
Com base em uma lógica modular própria para construir com a comunidade, o equatoriano Al borde trabalha de forma colaborativa e cooperativa. Seus projetos nascem das oportunidades criadas pelo próprio estúdio em função das necessidades das comunidades. O processo participativo de projeto alia-se ao entendimento do terreno, dos materiais disponíveis, e principalmente da mão-de-obra local. Entendendo os desafios da construção civil nas áreas remotas do Equador, os arquitetos fortalecem uma microeconomia ao lidar com artesãos locais, ao mesmo tempo em que criam arquiteturas originais e contextualizadas.

Grua
A prática do gru.a (grupo de arquitetos), escritório com sede no Rio de Janeiro , Brasil, é apoiada em um tripé formado por projeto, ensino e pesquisa. Suas obras articulam arte e arquitetura com instalações e edificações que compartilham o mesmo ímpeto: projetar e construir a partir da economia de recursos. Essa posição ideológica frente à vida e à arquitetura, para a equipe, não significa construir precariamente, mas buscar os melhores resultados com o mínimo de matéria, esforço e energia possíveis. Essa ideia aplicada a projetos de curta duração sugere uma tática de montagem, pressupondo técnicas e sistemas construtivos que podem ser rapidamente montados e desmontados, como na instalação A praia e o tempo na qual os arquitetos materializam a instabilidade, a transformação e a incerteza em uma intervenção potente e singela ao mesmo tempo.

ASPJ Arquitectura, Paisaje y Territorio
A ASPJ é um escritório sediado na Cidade do México focado no uso de sistemas lógicos e naturais para criar ambientes coerentes e funcionais. A ligação profunda com o local e os elementos que o habitam se dá na experimentação com materiais reciclados e naturais, na eficiência de construção e na inspiração em formas de construção indígenas. A equipe entende o terreno, os materiais locais e o usuário como participantes ativos na criação do projeto, com isso, há um esforço em aproveitar ao máximo as relações naturais dos ecossistemas, tendo a sintropia e a permacultura como principais pilares. Essa pesquisa aprofundada e a consciência sobre o contexto onde os projetos estão inseridos enriquece a perspectiva de criação, expandindo a capacidade de resolver problemas e driblar dificuldades.

Fonte: Archdaily