Baixa produtividade pode ser culpa do escritório; especialista diz que ruídos incomodam mais porque nos acostumamos com silêncio de casa

Postado em 2 de setembro de 2024 por

A mudança para o trabalho remoto durante a pandemia de Covid-19 não só mudou as nossas rotinas diárias, mas também teve efeitos profundos nos nossos cérebros. No geral, o lar condicionou-nos a trabalhar em silêncio, livres da conversa dos colegas de escritório ou do barulho dos teclados e de pessoas.

Somos mais suscetíveis ao ruído
Ainda assim, parece que esta mudança nos tornou mais suscetíveis a distrações quando voltamos ao ambiente de escritório tradicional. É o que diz Gleb Tsipursky, CEO da Disaster Prevention Experts e cientista comportamental que ajuda os executivos a tomar decisões. Segundo ele, o cérebro é um órgão altamente adaptativo, mudando constantemente em resposta ao nosso ambiente (este fenômeno é conhecido como neuroplasticidade):

“Quando trabalhamos em casa, nosso cérebro se adapta a um ambiente mais calmo e com menos distrações. Estamos mais sintonizados com os sons sutis do ambiente doméstico: o zumbido da geladeira, o tique-taque do relógio, o cantar dos pássaros do lado de fora da janela. Esses sons tornam-se o pano de fundo do nosso dia de trabalho e o nosso cérebro aprende a ignorá-los, permitindo-nos concentrar-nos nas nossas tarefas.”

No entanto, esta adaptação traz consigo uma compensação. À medida que nos habituamos ao silêncio do lar, a nossa capacidade de filtrar os ruídos mais altos e variados do ambiente do escritório enfraquece.

O que isso tem a ver com produtividade?

Várias empresas têm mandado seus funcionários de volta para os escritórios (ou pelo menos um regime híbrido) por diversos fatores, incluindo alegações de falta de produtividade no home office. Isso não tem agradado os funcionários, que em sua maioria se sentem mais felizes e produtivos no trabalho do conforto de casa. Tsipursky diz que há vários fatores em jogo, mas ele vê um grande culpado se destacando: a cacofonia do ambiente de escritório que acompanha o retorno ao escritório.

Quando os funcionários chegam depois de meses trabalhando em casa, eles se deparam com uma enxurrada de sons que quase haviam esquecido: o toque incessante dos telefones, o zumbido constante das conversas no escritório, o barulho dos teclados, etc. Estas são grandes distrações que perturbam o foco e prejudicam a produtividade. É como se alguém ficasse meses sem ir à academia: ao voltar, seu corpo certamente ficará dolorido.

E Tsipursky lembra vários estudos nesse sentido, como uma pesquisa da Universidade da Califórnia em Irvine descobriu que funcionários que trabalham em escritórios abertos, sem portas (estilo cubículo) recebem 29% mais interrupções do que aqueles que estão em escritórios privado, o que gera maior taxas de esgotamento.

Edward Brown, cofundador do Cohen Brown Management Group, descobriu em 2015, completamente pré-pandemia e com escritório cheio, que os trabalhadores de escritório perdem de três a cinco horas de tempo produtivo todos os dias devido a atividades indesejadas, desnecessárias e improdutivas, de acordo com suas percepções. Nossos cérebros, condicionados ao silêncio do lar, agora lutam para se adaptar ao barulho do escritório.


Em vez de menos tempo, a solução seria passar mais tempo no escritório (Imagem: Reprodução via Genbeta)

Passar mais tempo no escritório

Com tudo isso, parece que o especialista pode sugerir que é preciso voltar para casa para recuperar a produtividade. Mas, para desgosto de muitos em geral, o que Tsipursky diz é que precisamos ir mais ao escritório para nos acostumarmos com as novas rotinas. Para fazer com que o cérebro volte a ignorar os ruídos que desaprendemos a deixar de lado.

Não é só ele quem diz isso. Um artigo do Wall Street Journal, cujo subtítulo dizia “Trabalhar em casa bagunçou nossos cérebros. Precisamos de mais tempo no escritório para consertá-los” sugere que a solução para esse problema é gastar mais tempo no escritório para “exercitar” nossos cérebros e recuperar a capacidade à concentração em meio a tantas distrações e barulhos.

Thomas Carmichael, professor e chefe do departamento de neurologia da Escola de Medicina David Geffen da UCLA, compara nossos cérebros a “bíceps flácidos” que precisam ser fortalecidos e sugere que a solução é nos forçar a ir mais ao escritório. Uma “solução” que simplesmente ignora o tempo perdido (e o estresse do trânsito/transporte) que levamos para chegar ao trabalho onde estaremos fazendo algo que poderia ser feito de qualquer lugar – inclusive de casa.

Fonte: BR IGN