Postado em 18 de outubro de 2024 por sn-admin
Pesquisadores descobriram que a substituição parcial de agregados minerais por cinza de bagaço de cana-de-açúcar em misturas asfálticas aumenta a resistência e durabilidade das rodovias, além de reduzir o impacto ambiental, reutilizando um resíduo agrícola abundante no Brasil.
A pavimentação de rodovias é essencial para o desenvolvimento da infraestrutura e economia de um país. No Brasil, onde o transporte rodoviário é vital, a necessidade de melhorar a qualidade das estradas é urgente. Um estudo publicado na Scientific Reports por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá destacou uma abordagem inovadora: o uso de cinza de bagaço de cana-de-açúcar (SCBA), um subproduto da queima do bagaço para geração de energia, como componente em misturas asfálticas. Essa solução oferece uma oportunidade promissora para unir o desafio da melhoria das estradas com a reutilização de resíduos agrícolas.
O problema das estradas e o desafio dos resíduos
Segundo o estudo, 55% das rodovias brasileiras apresentam algum tipo de defeito, como buracos e trincas. Esses problemas são agravados pelo aumento da carga dos veículos e pela falta de manutenção. Paralelamente, a produção de cana-de-açúcar no Brasil gera uma quantidade imensa de bagaço, que ao ser queimado nas usinas, produz toneladas de cinza, que em sua maior parte é descartada sem aproveitamento adequado. Estima-se que na safra de 2022/2023, o Brasil tenha gerado mais de 3 milhões de toneladas de cinza de bagaço.
A solução sustentável: uso da SCBA no asfalto
Com base nesse cenário, pesquisadores avaliaram a substituição de 5% dos agregados minerais tradicionais da mistura asfáltica por SCBA, visando melhorar o desempenho mecânico e, ao mesmo tempo, oferecer uma solução ambientalmente correta para o descarte deste resíduo. As cinzas do bagaço de cana possuem propriedades que podem aumentar a resistência e a durabilidade da pavimentação.
Indústria de cana-de-açúcar em operação, onde o bagaço é queimado para gerar energia, resultando na produção de cinza.
Os resultados do estudo foram promissores tanto em laboratório quanto em campo. Os testes de laboratório demonstraram que a mistura modificada apresentou um aumento de 40% na Estabilidade Marshall, o que indica uma maior resistência da estrutura. Além disso, houve um incremento de 22% na resistência à tração, fator que contribui para a durabilidade do asfalto sob tráfego intenso.
Quando aplicado em um trecho de rodovia com alto fluxo de veículos pesados (BR-158), os resultados de campo foram igualmente impressionantes. O Módulo de Resiliência, que mede a capacidade do material de retornar à sua forma original após a passagem de veículos, aumentou em 18%. A resistência à deformação permanente também melhorou em 73%, indicando que a mistura com SCBA é menos suscetível à formação de trilhas de rodas e outros defeitos comuns.
Vantagens ambientais e econômicas
Além das melhorias no desempenho mecânico, o uso de SCBA na pavimentação também traz benefícios ambientais significativos. Ao reutilizar um subproduto agrícola que normalmente seria descartado, reduz-se a extração de materiais virgens, como pedras e minerais, o que diminui a emissão de carbono e o impacto ambiental da construção de estradas.
Além disso, a utilização de resíduos pode contribuir para a redução dos custos na produção de asfalto, uma vez que os materiais reciclados podem ser mais baratos que os agregados tradicionais.
O estudo demonstrou que a cinza de bagaço de cana-de-açúcar pode ser uma alternativa viável e eficiente para melhorar a qualidade das rodovias brasileiras. Ao substituir parcialmente os agregados minerais em misturas asfálticas, a SCBA aumenta a resistência do pavimento e oferece uma solução sustentável para o descarte de resíduos. Este avanço representa um passo importante em direção a uma infraestrutura rodoviária mais resistente e ambientalmente responsável.
Fonte: Tempo