Como usar inteligência artificial na elaboração de projetos de arquitetura?

Postado em 22 de outubro de 2024 por

Trabalhos operacionais e repetitivos podem ser realizados em maior volume e rapidez. Ao profissional, caberá a definição das premissas e diretrizes de projeto. Essa é a promessa da IA na arquitetura

A utilização da inteligência artificial avança em diversos setores da economia mundial. A construção, engenharia civil e arquitetura não estão alheias a esse processo. Há, porém, áreas que costumam ser consideradas mais sensíveis em relação ao uso da IA, principalmente aquelas ligadas às expressões criativas e humanas.

Por isso, muitos arquitetos se arrepiam só de tocar nesse assunto. E há também o receio de os empregos minguarem na área, com pessoas sendo substituídas por máquinas e sistemas. Mas o receio da tecnologia possui, de fato, algum sentido ou a aplicação pode facilitar e agilizar o trabalho dos arquitetos, contribuindo para torná-lo ainda mais relevante?

Para falar sobre o uso da inteligência artificial na elaboração de projetos de arquitetura, convidamos para o Podcast AEC Responde o arquiteto Thomas Takeuchi, sócio-fundador da Arqgen.

Ouça o áudio e/ou leia entrevista, a seguir:

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AECweb – Como utilizar a inteligência artificial na elaboração de projetos de arquitetura?

Thomas Takeuchi – Como acontece com qualquer inovação tecnológica, há diversas formas e momentos. No nosso caso, o que fazemos é ensinar uma máquina a desenvolver projetos de arquitetura. Nós explicamos as regras do jogo, ou seja, o que deve ser levado em consideração ao fazer um novo projeto ou layout. Seja com mobiliário, paredes ou portas, avaliamos cada um dos movimentos que estão sendo realizados. Aos poucos, vamos treinando o sistema, que vai aprendendo as regras do jogo para gerar projetos de arquitetura cada vez melhores. Estou falando de layouts de projetos arquitetônicos, mas não podemos esquecer que há profissionais muito criativos utilizando IA (inteligência artificial) para fazer concepções de imagens e de renderização, por exemplo, com gerador de texto a imagem. A aplicação é bem ampla e o grande desafio é ampliar a forma de expressão dos arquitetos.

AECweb – O que é arquitetura generativa?

Takeuchi – É um jeito bonito de dizer que, a partir de uma série de critérios e fórmulas, uma arquitetura pode nascer por conta própria. É sobre como fazer um computador conseguir gerar alguma parcela ou até a totalidade de um projeto arquitetônico. É uma arquitetura que nasce de uma série de premissas, a partir de algoritmos. Possui diversas aplicações em diferentes escalas.

AECweb – Esse trabalho exclui a participação humana no processo?

Takeuchi – Muito pelo contrário. Pela minha experiência como arquiteto, posso dizer que a maior parte do meu tempo era gasto em trabalhos operacionais, repetitivos. Dá para afirmar que 70% da minha rotina era dedicada aos desenhos técnicos, documentações, cotas e geração de plantas. Só me sobrava 30% para pensar o partido arquitetônico que, de fato, é a parte criativa. Acho isso muito cruel. Passamos anos na faculdade, depois em pós-graduações e especializações para sermos melhores arquitetos do ponto de vista conceitual. E, na prática, gastamos a maior parte do tempo em trabalhos braçais. Uma IA consegue gerar um projeto de arquitetura em questão de segundos, ao invés de semanas ou meses que o arquiteto levaria devido às tarefas repetitivas. Ou seja, tiramos o arquiteto de uma posição operacional e mecânica para elevá-lo a um nível estratégico. O papel do arquiteto começa a ser, praticamente, de um educador. Quais conceitos arquitetônicos, regras e princípios podemos pegar de nossa formação pessoal, ensinar uma máquina e ver o que ela gera? Se ela estiver desenvolvendo projetos ruins, quais dessas minhas regras foram mal concebidas? Qual o critério que considerei legal conceitualmente, mas na prática não se aplica? Posso trocar? É por isso que eu digo que o arquiteto se coloca em um ponto mais estratégico. É possível manejar as premissas e as diretrizes arquitetônicas e a máquina se encarrega de fazer a parte mecânica do desenvolvimento do projeto. Isso é dar protagonismo ao arquiteto, ao invés de afogá-lo com atividades repetitivas, operacionais. Nesse sentido, é libertador.

Fonte: AEC Web