O que é arquitetura neutra em carbono? Termos e estratégias de projeto

Postado em 15 de março de 2022 por

Por mais revolucionário que o setor da construção civil possa parecer hoje em dia, ele é atualmente responsável por quase 40% das emissões mundiais de dióxido de carbono, 11% das quais são resultado da fabricação de materiais de construção, como aço, cimento e vidro. Alguns anos depois, após uma pandemia global que acarretou mudanças de rotina e provas incontestáveis da mudança climática, as emissões de CO₂ ainda estão em ascensão, atingindo um máximo histórico em 2020, de acordo com o Relatório da Situação Global de Edifícios e Construção de 2020. Embora muito progresso tenha sido feito por avanços tecnológicos, estratégias e conceitos de projeto e processos de construção, ainda há um longo caminho a percorrer para reduzirmos as emissões de carbono a um mínimo ou quase zero no desenvolvimento de ambientes construídos.

Em resposta às estatísticas alarmantes, os governos implementaram vários planos de ação para limitar as emissões de carbono e garantir um meio ambiente sustentável. Em julho de 2021, a Comissão Europeia adotou um pacote de propostas para reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030. No início deste ano, a comissão lançou sua segunda edição do Novo Programa Europeu Bauhaus, uma iniciativa destinada a transformar o ambiente construído em um ambiente mais sustentável e socialmente valioso.

À medida que o mundo embarca em uma missão em direção a um ambiente net-zero, selecionamos alguns termos que englobam este processo.

Arquitetura Net-Zero

Por definição, “net-zero”, também conhecido como carbono neutro, é o ato de zerar ou cancelar a quantidade de gases de efeito estufa produzidos pela atividade humana, reduzindo as emissões existentes e implementando métodos de absorção de dióxido de carbono da atmosfera. Embora os edifícios net-zero representem um fragmento de novos projetos de construção, a tecnologia, as ferramentas e o conhecimento que os arquitetos adquiriram nos últimos anos tornaram o projeto de um edifício net-zero a nova norma. Para projetar edifícios net-zero, listamos sete características a serem consideradas para contribuir para este objetivo global. A lista inclui a implementação da arquitetura bioclimática e conceitos passivos, fornecer energia renovável no local sempre que possível, utilizar equipamentos e iluminação eficientes, considerar o carbono embutido, entre outros itens. Além da arquitetura, os urbanistas também têm tentado encontrar estratégias para criar comunidades ecologicamente corretas. Em 2018, Architecture for Humans propôs o Bairro de Emissão Zero, um conceito de eco aldeia na cidade de Pristina, Kosovo, que garante a sustentabilidade ideal para toda a comunidade por meio de edifícios de “emissão zero”, estratégias de design passivo, sistemas solares ativos e eficiência energética.

Net-Zero é quando o edifício consegue compensar ou contrabalancear a quantidade de energia necessária para construir e operar durante toda sua vida útil em todos os aspectos do local, fonte, custo e emissões. Em outras palavras, o edifício é capaz de produzir energia suficiente para cancelar ou “zerar” a quantidade de energia necessária para operar diariamente. Os edifícios com energia zero são frequentemente projetados com três critérios: “produzir energia no local através de equipamentos como painéis solares ou turbinas eólicas, contabilizar seu uso através da produção de energia limpa fora do local, e reduzir a quantidade de energia necessária através da otimização do projeto”. Alcançar isso não depende inteiramente da eficiência do edifício, mas da redução da carga e, em seguida, do emprego de energia renovável para compensar o restante. Um exemplo de edifícios de energia zero é a Casa Net Zero por Lifethings, onde o cliente queria uma casa baseada no bom senso em seu projeto, construção e orçamento. A casa de 230 m² inclui painéis fotovoltaicos, tubos de coleta de calor solar, caldeira a lenha, quatro cozinhas e quatro banheiros, todos construídos com um orçamento modesto.

Carbono Net-Zero

A emissão zero de carbono é alcançada através da redução de técnicas de construção e materiais de construção que resultam em altas emissões de carbono. Em termos simples, Carbono Net Zero = Carbono Total Emitido — Carbono Total Evitado. A redução do carbono incorporado através de uma seleção concisa de materiais e técnicas de construção muitas vezes resulta em uma diminuição da emissão de gases químicos nocivos, afetando a produtividade e o bem-estar dos ocupantes. A Casa do Pátio, projeto de Manoj Patel Design Studio promove operações de carbono positivo e líquido zero em um planejamento inteligente do espaço e seleção de materiais, enquanto garante o bem-estar emocional e físico de seus usuários. As telhas de barro na fachada são cortadas e entrelaçadas para explorar as paredes suspensas do céu e destacar o volume branco. A estrutura atende a todas as necessidades climáticas e estéticas deste humilde espaço convidativo. Padrões surpreendentes em uma malha gráfica numeram as projeções paralelas a cada momento durante o dia, conforme a rotação do sol.

Emissões de carbono e combustíveis fósseis

As emissões de carbono, ou emissões de gases de efeito estufa, são emissões emergentes da fabricação de cimento e da queima de combustíveis fósseis, e são consideradas a principal razão por trás da mudança climática. Combustível fóssil é outro termo usado para descrever fontes de energia não renováveis à base de carbono, tais como carvão, gás natural e derivados, petróleo bruto e produtos petrolíferos. Embora sejam originários de plantas e animais, os combustíveis fósseis também podem ser feitos por misturas industriais de outros combustíveis fósseis, tais como a transformação de petróleo bruto em gasolina para motores. Estima-se que quase 80% de todas as emissões de gases de efeito estufa produzidos pelo homem têm origem na combustão de combustíveis fósseis, sendo a indústria da construção civil um de seus maiores contribuintes.

Sustentabilidade

Por definição, sustentabilidade é quando um assunto pode ser sustentado, o que significa que ele pode ser mantido a longo prazo sem ser interrompido, desintegrado ou enfraquecido a longo prazo. Na arquitetura, entretanto, o termo “sustentabilidade” tem sido usado em vários contextos. Alguns dos quais são para indicar ser eco-consciente, um ambientalista, ou “satisfazer nossas próprias necessidades sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”, utilizando recursos naturais, sociais e econômicos. Ao analisar todos os projetos “sustentáveis” que foram desenvolvidos e estão sendo propostos, pretende ser uma abordagem holística que considera três pilares: o meio ambiente, a sociedade e a economia, todos mediados em conjunto para garantir vitalidade e durabilidade. A sustentabilidade não é implementada apenas no nível arquitetônico através de materiais reciclados e técnicas de construção, mas também em escala urbana. A Comissão Europeia, por exemplo, adotou várias propostas nacionais que levaram o continente um passo adiante na implementação do Pacto Verde Europeu, um plano de ação que transforma a UE em uma economia moderna, eficiente em recursos e competitiva.

Design Passivo

Por definição, “a energia solar passiva é a coleta e distribuição da energia obtida pelo sol através de meios naturais não mecânicos”, que na arquitetura tem fornecido aos edifícios calor, iluminação, energia mecânica e eletricidade da forma mais natural possível. A configuração por trás dos sistemas passivos consiste em três tipos: ganho direto, ganho indireto e ganho isolado, e considera estratégias de projeto como: localização em relação ao sol, forma geral e orientação de um projeto, alocação de ambientes internos de acordo com insolação e ventilação, inserção de janelas e acessos cobertos. Além da escolha de materiais que absorvam o calor, fachadas de vidro/janelas solares quando necessário, implementação de fachadas ventiladas, claraboias, espelhos d’água, elementos de sombreamento, entre outros.

Reuso Adaptativo

Arquitetos e urbanistas têm a responsabilidade de garantir que os espaços em que as pessoas vivem atendam a elas, ao meio ambiente, à sociedade, mantendo seu valor cultural e histórico. No entanto, nos últimos anos, foram destacadas inúmeras dificuldades socioculturais relacionadas ao ambiente construído, como crises habitacionais, demolição de marcos históricos, falta de áreas verdes, etc. Uma maneira de lidar com estas crises foi reutilizar estruturas antigas e complementá-las com novos elementos ou funções em vez de optar pela demolição e reconstrução completas, o que geraria inevitavelmente uma pegada de carbono muito maior. O reuso adaptativo pode ser executado na forma de reutilização de materiais, intervenções em uma construção pré-existente, recuperação de uma edificação abandonada, ou mudança da função original do espaço.

Fonte: Archdaily