Sistemas estruturais em alvenaria e concreto: Qual o mais adequado para uma edificação?

Postado em 18 de abril de 2022 por

O cenário da construção civil pós-pandemia exige atenção redobrada dos empreendedores e construtores, para desenvolver estratégias certas e voltar a crescer. Nesse contexto, acertar nas escolhas consiste em planejar e considerar as melhores possibilidades favorecendo uma retomada rápida, responsável e consciente das obras civis.

Os sistemas estruturais têm por função a absorção de esforços oriundos de todos os elementos componentes de uma edificação, incluindo o seu uso. Estes sistemas são dotados de características próprias que os fazem mais ou menos adequados para diferentes tipos de projetos. Quanto à resistência, tanto o concreto armado quanto a alvenaria estrutural, apresentam excelentes condições. Portanto, a escolha do sistema estrutural, tendo em vista as premissas de um projeto arquitetônico, depende de um estudo preliminar das necessidades de cada obra, custos e recursos.

A boa escolha de um sistema estrutural é essencial para a garantia de qualidade e custo final de uma obra. Por questões culturais e econômicas, na construção civil brasileira, as obras de pequeno e médio porte apresentaram, por longo tempo, o concreto armado como o material mais utilizado na composição de um sistema estrutural. Já a alvenaria autoportante, que sempre teve um papel coadjuvante quando comparado aos demais sistemas, desponta, atualmente, em concorrência pelas suas vantagens, indicando a necessidade de esclarecimentos e informações sobre as vantagens, funcionalidades e custos.

A falta de conhecimento, aliada ao preconceito sobre o comportamento de um elemento multifuncional, atrasou estudos e investimentos relacionados a esse sistema. Entretanto, com os valores cada vez maiores das madeiras utilizadas para fôrmas e hoje, com a alta do aço, a alvenaria estrutural, tornou-se uma alternativa para empreendimentos que buscam aliar economia e produtividade em edifícios de múltiplos pavimentos. As normas brasileiras de alvenaria estrutural eram pouco abrangentes e por isso, obtiveram algumas mudanças nos anos de 2010 e 2011, dando mais espaço para o sistema construtivo e um grande avanço para o mercado brasileiro. Com nova publicação da norma da ABNT em 2020 apresentada em partes 1,2 e 3 e denominada ABNT NBR 16868:2020 as recomendações contemplam uma unificação de dois materiais para o sistema autoportante: blocos de concreto e de blocos cerâmicos.

Por que escolher a alvenaria estrutural?

A alvenaria estrutural é um sistema construtivo antigo e tradicional onde inicialmente eram utilizados blocos de rocha como elementos de alvenaria. Com o passar do tempo (4.000 a.C.) a argila passou a ser trabalhada possibilitando a produção de tijolos. O sistema construtivo desenvolveu-se inicialmente através do simples empilhamento de unidades, tijolos ou blocos, não existindo a necessidade do uso de vigas de concreto armado ou pilares.

Quando se trata de sistema em alvenaria, o projeto estrutural está intimamente ligado ao arquitetônico pela “modulação”. Trata-se de adequar as dimensões dos ambientes do projeto com as dimensões dos blocos a serem utilizados e definidos inicialmente, sendo medidas múltiplas, pois quando não são, a modulação é “quebrada” e para compensar adotam-se blocos especiais pré-fabricados chamados de elementos compensadores da modulação, como as “bolachas” ou blocos cortados, necessários para o ajuste das paredes às cotas, encarecendo o sistema. Portanto, a modulação deve ser realizada junto ao projeto arquitetônico para garantir a racionalização da construção e permitir o alto índice de produtividade que este processo é capaz de atingir, além de reduzir o desperdício com ajustes e cortes de blocos.

Para obter as vantagens citadas, deve-se pensar a modulação de um projeto tanto na direção horizontal quanto na vertical, tendo como ponto de partida a definição da unidade modular. A prática da modulação impacta em todas as fases do empreendimento, pois simplifica a execução do projeto, proporciona a padronização de materiais e procedimentos de execução, viabiliza o controle da produção e aumenta a precisão com que se produz a obra, além de minimizar os problemas de interface entre os componentes, elementos e sistemas como os hidráulicos e elétricos.

As unidades de alvenaria após projetadas na fase de modulação, são colocadas em camadas (fiadas) uma por vez, e são unidas por uma argamassa aglomerante, podendo ser dosada em cimento, ou à base de cal, ou ainda, com ambos, obtendo-se assim as melhores propriedades de cada um deles: boa resistência do primeiro e trabalhabilidade do segundo, simultaneamente.

No sistema em alvenaria as cargas são transferidas linearmente pelas paredes estruturais e percorrem toda a extensão da edificação até a fundação para, posteriormente caminhar até o solo. Portanto, para a resistência à compressão das unidades, a norma brasileira estabelece o seguinte limite mínimo: Bloco estrutural – fbk superior a 4,5 Mpa. Assim, o sistema resistente é utilizado em construções verticais com pavimentos tipo e repetições de layout sem intenção de remoção de paredes no futuro, pois a alvenaria é a peça fundamental e ao mesmo tempo é um elemento de vedação, o que é favorável a estabilidade do conjunto.

Tendo em vista um controle de qualidade, as obras em alvenaria devem satisfazer um número de exigências normativas tais como:

Estabilidade mecânica;
Durabilidade
Isolamento térmico e acústico;
Resistência ao fogo
Por que escolher o concreto armado?

Com a criação do cimento Portland, no século XIX, a mistura de água, cimento, areia e brita, origina-se o concreto, após seco resulta-se em um bloco monolítico e pode ser complementado para proporcionar melhores características com a inclusão de aditivos químicos, como a cinza volante, pozolana, sílica ativa, pigmentos coloridos, fibras, agregados especiais, entre outras.

O concreto armado se mostra durável, de fácil modelagem e de alta resistência; suas recomendações de cálculo apresentam-se na ABNT NBR6118:2014 Projeto de estruturas de concreto – Procedimento na sua última versão. Porém, várias são as inovações tecnológicas dos materiais que com põe o concreto inseridas nos últimos anos. Como algumas de suas desvantagens constata-se elevado peso, dificuldade em sua reforma ou demolição, custo para moldagem de suas formas, possível surgimento de fissuras durante aplicação de cargas móveis. Sua aplicação mais adequada é por meio de adensamento, retirando o ar presente na massa do concreto, tornando-o mais compacto. Por fim, o material pode ter utilização em diversos tipos de obras, dependendo da estrutura a ser construída.

O concreto simples não resiste facilmente às tensões de tração e cisalhamento causadas por ventos, terremotos, vibrações e outras forças, torna-se inadequado na maioria das aplicações estruturais devendo ser armado. Assim, as armaduras inseridas podem receber um pré-tracionamento permitindo que este material seja utilizado em edificações que necessitam de maior resistência tais como: pontes, estádios de futebol, usinas hidrelétricas, rodovias, monumentos e obras afins.

Apresentam-se os seguintes aspectos positivos para o concerto armado:

Baixo custo de manutenção;
Alta resistência à compressão, em comparação com outros materiais de construção;
Resistência razoável ao fogo e às intempéries;
Durabilidade maior do que a de qualquer outro sistema; 
Em estruturas como fundações, barragens e pilares, é o material de construção mais econômico.
Como identificar o sistema construtivo mais adequado?

A concepção do projeto arquitetônico e demais questões relacionadas a utilização e dimensões da obra seria o primeiro passo de análise. Com projetos cujos pavimentos tipo se repetem fielmente, apresentando com paredes não excêntricas, ou seja, uma parede sobre a outra, e um número suficiente de paredes que permite o contraventamento, a alvenaria estrutural seria a melhor opção. A nova norma NBR 16.868 veio a colaborar com a alvenaria estrutural, recomendou itens que resultaram em melhorias de projeto e execução com o desenvolvimento de materiais mais eficientes, como blocos com geometrias que fornecem melhor isolamento térmico e acústico. Para edificações de menor porte de até 4 pavimentos, projetadas em modulação na sua concepção inicial, e para condomínios residenciais padronizados: quando a intenção é fazer casas iguais em um mesmo espaço a alvenaria é uma excelente opção conduzindo a menores custos.

No que diz respeito ao concreto armado novos materiais surgem a cada dia, cimentos que proporcionam elevadas resistências (CAD – Concretos de alto desempenho) e conduzem a uma rapidez de desfôrma fazendo valer apena não somente no uso de estruturas de grande porte mas também aplicado em empreendimentos que demandam entrega imediata.

Além disso, ainda no contexto de escolhas e planejamento, pode-se citar o Building Information Modeling (BIM), o qual, apesar de já ser utilizado há algum tempo, é uma ferramenta virtual que está em processo de transição em diversas empresas ao redor do mundo. Esse sistema busca, em sua essência, unir diversas dimensões de um projeto em um único modelo, possibilitando a integração de todos os elementos necessários para a obra e evitando possíveis conflitos entre os projetos estruturais, elétricos e hidrossanitários, auxiliando nas escolhas pela verificação de compatibilidades.

Por fim entende-se que planejar e proporcionar a interação entre os profissionais: engenheiros e arquitetos de um empreendimento, é a melhor forma de iniciar uma boa escolha para sistemas estruturais e construtivos em obras civis pois não há uma receita exata e diversos são os fatores a serem considerados para uma análise de viabilidade técnico/econômica.

Fonte: Dom Total