Postado em 17 de junho de 2022 por sn-admin
Além de auxiliar engenheiros projetistas, o método também poderá ajudar a Defesa Civil a calcular riscos iminentes de desastres em áreas vulneráveis de centros urbanos.
Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Viçosa (UFV) revelou que obras de infraestrutura urbana que não consideram a mudança da frequência de chuvas extremas nos cálculos estruturais já podem estar com a segurança comprometida.
Segundo a instituição, o trabalho também fornece uma metodologia para definir estes novos parâmetros através da inclusão do comportamento não estacionário em chuvas extremas, algo novo no Brasil. Além de auxiliar engenheiros projetistas, o método também poderá ajudar a Defesa Civil a calcular riscos iminentes de desastres em áreas vulneráveis de centros urbanos.
A professora do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV , Gabrielle Pires, é orientadora da pesquisa que gerou o artigo publicado na revista científica Hydrological Sciences Journal. Segundo ela, ao calcular a estrutura de pontes, barragens ou galerias de drenagem, por exemplo, os projetistas de obras de infraestrutura consideram dados históricos de chuvas intensas.
A depender do risco envolvido, admite-se que uma estrutura deverá suportar uma chuva extrema com certo período de retorno, que é o tempo de recorrência destes eventos.
Ainda segundo a professora, o problema é que os eventos extremos não são mais lineares, nem previsíveis a longo prazo. Eles estão mais frequentes e intensos e esta condição deve se agravar com o aumento do aquecimento global.
Até agora, ainda não havia, no Brasil, nenhuma metodologia que orientasse os cálculos para obras nesta nova condição climática e fornecer esta base de cálculo que inclui o componente climático não estacionário é o grande mérito do trabalho desenvolvido pelos pesquisadores da UFV.
O artigo é fruto da dissertação de mestrado da engenheira civil Bianca Cortez. De acordo com ela, o trabalho detectou que existem tendências no decorrer das séries históricas que têm se acelerado com as mudanças no clima em algumas regiões.
Bianca ressaltou ainda que, a metodologia proposta será útil para projetos de engenharia urbana e civil, porque ajusta os cálculos, mostrando que uma estrutura prevista para suportar chuvas que seriam previsíveis nos próximos 50 anos pode estar com capacidade saturada na metade do tempo esperado.
“Com este trabalho, os projetos já podem considerar a nova metodologia para o cálculo dos períodos de retorno, avaliando a relação custo versus risco”, afirmou a pesquisadora.
A orientadora Gabrielle Pires lembrou que a chuva não é o único fator que influencia nos desastres urbanos. Há, ainda, a intensificação do uso e ocupação do solo, que pode gerar transtornos, mesmo para chuvas mais brandas.
“Ainda assim, os parâmetros de precipitações são importantes para a prevenção, porque os agentes atmosféricos são importantes condicionantes para os desastres, como as inundações”.
As pesquisadoras esclarecem, ainda, que a capacidade de avaliar a segurança das obras já realizadas pode ajudar a Defesa Civil e o Poder Público a criarem sistemas de alertas mais eficientes para desastres naturais, assim como em relação à solidez de uma ponte ou barragem para salvar vidas das pessoas envolvidas na localidade.
De acordo com a UFV, a equipe está em busca de recursos para refinar os cálculos ainda mais, incluindo relevo e outros componentes, mas a metodologia proposta pela pesquisa está disponível gratuitamente no site do Grupo de Pesquisas em Climatologia Aplicada (Climap) e pode ser acessada por engenheiros e pesquisadores.
Fonte: G1