Postado em 29 de agosto de 2022 por sn-admin
Fuga para condomínios de luxo em cidades do entorno da capital é uma tendência sólida que vem gerando um boom de lançamentos e alta valorização dos imóveis
O mercado imobiliário do interior de São Paulo permanece aquecido mesmo após o controle da pandemia de Covid-19 no estado. Boom de lançamentos residenciais, novos condomínios de luxo e aumento do interesse nas plataformas de busca sugerem que o êxodo de paulistanos rumo às cidades do entorno da capital — fenômeno que surgiu no período mais agudo da crise sanitária de 2020 e 2021 — é uma tendência que veio para ficar.
Segundo dados da regional de Sorocaba do Secovi-SP, o total de unidades residenciais lançadas na região entre o segundo trimestre de 2020 e o primeiro deste ano subiu 37%. Em São José do Rio Preto, o percentual foi de 74%. Já no Vale do Paraíba, o VGV dos imóveis novos em São José dos Campos disparou 92%.
Esse cenário de expansão é resultado do aumento de interesse de muitos paulistanos por uma vida melhor longe da capital. Levantamento do DataZ AP+ do último trimestre de 2022, de maio a julho, aponta que o interesse por casas no interior, em municípios que ficam a até 120 quilômetros de distância de São Paulo, cresceu 2% em relação ao ano passado.
“Esse movimento de saída parece pequeno, mas, se esse percentual for direcionado para uma cidade como Itu, vai significar um impacto muito relevante para a economia local”, analisa Pedro Tenório, economista do DataZAP+.
Segundo ele, isso reflete a busca por moradias com mais espaço e maior contato com a natureza, característica comum às cidades do interior paulista. E ainda tem o custo de vida menor: pessoas com salários no padrão da capital têm poder de compra maior em municípios menores.
“É um efeito econômico esperado, ainda reflexo da pandemia e do home office: a pessoa diminui o custo do transporte até o trabalho e investe na moradia, em cidades e bairros melhores e mais distantes dos centros econômicos”, resume Tenório.
Para atender à demanda dos paulistanos, as incorporadoras têm lançado produtos com perfis híbridos, que combinam lazer e trabalho. Em Piedade, a 1h20 da capital paulista, o condomínio Portofino — Reserva, Náutica e Golf —, da Eco Lotes Empreendimentos Imobiliários, oferecerá infraestrutura elétrica subterrânea e de conectividade completa para que os futuros moradores possam trabalhar remotamente.
“Não são mais casas de final de semana. As pessoas podem passar mais tempo nesses locais e exercer suas atividades profissionais de forma virtual”, diz o sócio-diretor da Eco Lotes, Juraci Matos.
Mas é na hora de relaxar que o show começa. Com 1,8 milhão de metros quadrados, o condomínio vai contar com campo de golfe assinado pelo expert no assunto Dan Blankenship, clube de lazer idealizado pelo arquiteto Gui Mattos e marina com vaga para mais de 400 embarcações, às margens da Represa de Itupararanga. O empreendimento vai consumir R$ 90 milhões em investimentos e deve ser entregue no fim de 2023.
Na avaliação do CEO da Bossa Nova Sotheby’s, Marcello Romero, a busca pela vida no campo com mais segurança, espaço e lazer é uma tendência que permanecerá forte. Ele observa ainda que os empreendimentos com múltiplos amenities são os que têm mais aceitação.
“Antes era um projeto para quem é do golfe, outro para quem gosta de cavalos. Agora, os que têm mais procura são aqueles que oferecem atividades para todos, principalmente para os filhos, para que eles tenham vontade de ir também.”
‘São Paulo invadiu Sorocaba!’
Cidades do interior recebem cada vez mais moradores vindos de São Paulo, com efeito no setor de construção e de corretagem de imóveis
À frente do escritório de arquitetura que leva seu nome, o arquiteto Eduardo Gomes viu o volume de trabalho dobrar nos últimos anos em razão dos novos moradores que têm chegado a Sorocaba, cidade a cem quilômetros da capital paulista. “A busca por projetos residenciais de alto padrão cresceu 100%. Tivemos de cancelar férias da equipe e pagar hora extra para aproveitar este momento”, explica o arquiteto.
Nos grupos de clientes que vivem em condomínios de alto padrão, a quantidade de vizinhos com DDD 11 cresceu como nunca antes. “Costumamos dizer que São Paulo invadiu Sorocaba. São pessoas que perceberam que poderiam trabalhar à distância e que vão à capital uma vez por semana”, diz.
Em Itu, a 1h30 de carro de São Paulo, o sotaque paulistano também predomina dentre os clientes da BHaus, construtora especializada em imóveis de luxo. “Cerca de 60% dos interessados em desenvolver projetos conosco vêm da capital”, afirma o sócio Matheus Mercatelli Bob.
Como engenheiro civil, Matheus acredita que a chegada de clientes mais exigentes vindos da capital tem elevado a qualidade dos projetos residenciais do ponto de vista construtivo. “Antes, o nível de exigência era menor. Agora, o padrão dos projetos e da construção em si — desde a parte estrutural até os acabamentos — está bem mais elevado.
”O interesse pelo interior tem feito crescer também a quantidade de novos corretores de imóveis que obtêm registro junto ao Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-SP). “Temos observado um sensível crescimento do número de profissionais que atuam no interior”, afirma o presidente da instituição, José Viana Neto.
Segundo ele, metade dos cerca de 22 mil novos corretores cadastrados no ano passado veio de fora da capital. “Muitos são engenheiros, médicos, farmacêuticos, gerentes de bancos e outros profissionais que mudaram de carreira para aproveitar o aquecimento do mercado nas cidades do interior”, afirma.
Fonte: Valor