Postado em 6 de abril de 2023 por sn-admin
Projeto liderado por pesquisadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP aposta na transdisciplinaridade para ampliar e consolidar a plataforma colaborativa Arquigrafia
Um dos maiores desafios do campo científico nos dias de hoje é o reconhecimento da construção coletiva do processo e dos resultados de uma pesquisa, que deve contar com recursos materiais e financeiros adequados, mas que, fundamentalmente, é realizado por pessoas, reunidas em uma equipe qualificada para lidar com as questões propostas e alcançar aos resultados esperados dentro dos prazos definidos no cronograma da pesquisa.
Em muitos casos, para se chegar ao resultado almejado, o aspecto transdisciplinar de uma pesquisa pode ser fundamental para o avanço científico, pois este agrega um grupo de profissionais de áreas distintas em torno de um objetivo comum que pode ser uma reflexão original, uma descoberta, um produto ou um serviço que atenda as demandas da sociedade. Neste sentido, a transdisciplinaridade promove a interação entre disciplinas e não se restringe apenas ao conteúdo disciplinar, pois propõe um diálogo entre campos do saber para alcançar e alterar a percepção, cognição ou comportamento dos sujeitos envolvidos. Isto permite uma vivência mais ativa e a aplicação de conceitos já sedimentados em uma determinada área em outra.
Um bom exemplo dessa prática é o projeto Experiência Arquigrafia 4.0, iniciado em 2009 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, que conta hoje com apoio financeiro da Fapesp na condição de projeto temático até 2027. Atualmente o projeto está em fase de ampliação e consolidação de uma plataforma colaborativa na Web que disponibiliza um ambiente colaborativo de imagens de arquitetura na Web para estimular o compartilhamento de informações, experiências e imagens de edifícios e de espaços urbanos.
“O projeto Arquigrafia aborda questões críticas sobre a Internet atual e o horizonte de desenvolvimento do que se entende como potencial 4.0, investindo em possibilidades de enriquecimento mútuo entre a experiência sensível cotidiana e a construção, organização, representação e recuperação de conhecimentos sobre as cidades no presente, na memória e no desejo projetual para o amanhã.”, destaca o coordenador do projeto Artur Rozestraten.
Para tanto, o desenvolvimento das atividades conta com uma equipe transdisciplinar de pesquisadores de diversas áreas, setores e organizações como a FAU, ECA, IME, IP, ICMC e Ufscar. Esta equipe se dedica à investigação das condições contemporâneas da constituição de ambientes colaborativos autônomos na Web. “Atualmente o projeto estuda experimentalmente a desconstrução e a apropriação de elementos e estruturas funcionais disponíveis online tais como as redes sociais e sistemas que possam resultar em protótipos experimentais concretos e consistentes para uma autonomia crítica na Web” destaca Artur.
Reforço transdisciplinar
Para ampliar a capacidade transdisciplinar do projeto, foi realizada uma parceria entre as equipes de pesquisadores da FAU e do Instituto de Matemática e Estatística (IME), ambos com projetos temáticos Fapesp vigentes. Esta parceria obteve uma das 12 bolsas USP para a contratação de pesquisadores que vão atuar especificamente na gestão acadêmica dos projetos a partir de 2023.
A bacharel em Física com mestrado e doutorado em Ciências (área de Astronomia) obtidos na USP, Isabel Aleman, acaba de ser contratada por meio de um processo seletivo no âmbito do programa de Formação em Gestão Acadêmica de Projetos de Pesquisa (GAP) em uma iniciativa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da USP (PRPI).
Isabel irá atuar simultaneamente no Experiencia Arquigrafia 4.0 e no projeto temático Tendências em computação de alto desempenho, do gerenciamento de recursos a novas arquiteturas de computadores coordenado pelo professor Alfredo Goldman, do IME. Para isso, sua larga experiência na colaboração e gestão de projetos científicos adquirida durante os estágios pós-doutorais no Brasil – na USP e nas Universidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Itajubá (Unifei) – e no Exterior – nas Universidades de Manchester (Reino Unido) e de Leiden (Países Baixos) será um diferencial.
A pesquisadora considera extremamente relevante a necessidade de investimentos em ciência no que diz respeito à qualificação pessoal e profissional. Ela acredita que investimentos, sejam públicos ou privados, são essenciais para a ciência, assim como é para a indústria ou o comércio. “Para desenvolver ciência precisamos de equipamentos, material básico como caneta e papel, energia elétrica, móveis de escritório etc. Tudo isso tem um custo. Assim como ocorre em uma empresa ou repartição pública, por exemplo. A academia depende de salários competitivos para manter o pessoal qualificado na pesquisa e no suporte desta. Somente desta forma a ciência trará retornos importantes, novos conhecimentos e tecnologias, assim como a formação de especialistas. Certamente, isso paga com juros o investimento feito”, destaca Isabel.
Com esta nova oportunidade para atuar nos projetos temáticos Fapesp na USP, a pesquisadora acredita que vai contribuir em várias áreas. “Em particular, nos dois projetos nos quais trabalho há uma grande componente computacional, área com a qual trabalhei muito em meus projetos dentro da Astrofísica. Embora esse seja um elemento que me interessou nos projetos, não é só nisso que posso contribuir. Eu trabalho há muitos anos dentro da academia e já fiz um pouco de tudo que se faz como pesquisador: elaborar um projeto e fazer o pedido de verba ou bolsa; desenvolver pesquisa, vencer suas dificuldades e concluí-la; publicar e divulgar os resultados; participar e organizar encontros científicos; dar aulas e palestras, assim como fazer atendimento ao público e divulgação científica, entre outras muitas coisas. Trago essa experiência toda, com bastante entusiasmo e com uma nova visão, pois venho de outra área, a Astrofísica”, lembra a pesquisadora.
Iniciativa pioneira
O Programa de Formação em Gestão Acadêmica de Projetos de Pesquisa (GAP) é uma iniciativa pioneira da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da USP (PRPI) da USP que tem como objetivo propiciar a formação de profissionais capacitados para atuar como gestores acadêmicos de projetos de pesquisas promovendo maior difusão e eficiência na organização dos projetos, otimização do tempo dos pesquisadores e maior competitividade internacional da pesquisa, fomentando o avanço das áreas de conhecimento e de inovação da Universidade.
“De forma bem geral, devo contribuir para a melhor gestão das atividades ligadas aos projetos temáticos. A ideia de trazer um pesquisador com experiência como gerenciador de atividades é justamente para ajudar a avaliar e definir o que pode ser feito no âmbito dos projetos para produzir ciência de qualidade. Cada projeto tem metas diferentes, assim estamos avaliando e discutindo quais atividades realizar para atingir todas as metas. Entre as metas está conseguir uma maior visibilidade dos projetos. Neste caso, irei contribuir para a organização de eventos científicos e identificação de oportunidades e meios de divulgação das atividades do grupo, entre outras ações”, comenta Isabel.
Falando sobre a sua atuação e a relação com a interdisciplinaridade, a pesquisadora destaca a importância deste aspecto em projetos de pesquisa. Para ela, produzir ciência hoje em dia é, em geral, uma experiência colaborativa. “Gerar conhecimento novo, pede ao menos algo de interdisciplinaridade. O Arquigrafia, por exemplo, é largamente interdisciplinar. Embora tenha o foco na Arquitetura e Urbanismo, o projeto precisa e pode contribuir para outras áreas. Como um acervo colaborativo digital, ele precisa de uma grande contribuição da Tecnologia da Informação, por exemplo. A digitalização de acervos físicos demandou o uso de tecnologias de restauração de diapositivos. O uso de seu acervo pode contribuir não somente para a Arquitetura, mas para a História, Arte e até o Turismo” explica.
Fonte: Jornal USP