Postado em 12 de maio de 2023 por sn-admin
Yasmeen Lari, reconhecida como a primeira arquiteta do Paquistão, teve um impacto significativo tanto em seu país de origem quanto internacionalmente devido à sua abordagem inovadora e socialmente consciente em relação à arquitetura. Através de uma visão sistemática, o trabalho de Lari leva em consideração a cultura local, as oportunidades específicas da região e os desafios. Nascida no Paquistão em 1941, Yasmeen Lari mudou-se para Londres com sua família aos 15 anos. Depois de se formar na Oxford Brooks School of Architecture, ela voltou ao Paquistão aos 23 anos para iniciar a Lari Associates com seu marido, Suhail Zaheer Lari. O casal se estabeleceu em Karachi. Ali, ela começou a estudar as cidades antigas do Paquistão e a arquitetura vernacular de terra, despertando seu interesse pelo patrimônio arquitetônico e pelas técnicas tradicionais de seu país. Em 1980, ela cofundou a Heritage Foundation of Pakistan com seu marido, uma fundação ativa na preservação do rico patrimônio cultural do Paquistão.
Após se aposentar de sua prática arquitetônica em 2000, Lari mudou seu foco para os esforços humanitários, ajudando as vítimas de desastres naturais, como o terremoto de 2005 e as inundações subsequentes. Lari também desenvolveu um sistema de distribuição de conhecimento entre as comunidades rurais capacitando-as para a autoconstrução e redescoberta de materiais e técnicas tradicionais. Esse sistema provou ser uma alternativa eficaz e autossustentável aos modelos de auxílio “de cima para baixo”, criando um programa baseado nos direitos dos mais necessitados e abordando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com ênfase na meta número um: Erradicação da Pobreza. Por suas contribuições significativas para o campo da arquitetura, sustentabilidade e ativismo, Yasmeen Lari recebeu o Prêmio Jane Drew em 2020 e a RIBA Royal Gold Medal 2023.
Continue lendo para conhecer a longa carreira de Yasmeen Lari por meio de suas obras construídas, começando pelos primeiros projetos corporativos durante os anos 1970 e 1980, até os esforços humanitários mais recentes na zona rural do Paquistão, ou o que ela chama de “Arquitetura de pés descalços”, pisando suavemente o planeta.
Habitação Social Angoori Bagh, Lahore, Paquistão, 1973
Em 1973, Yasmeen Lari desenvolveu Anguri Bagh, o primeiro projeto de habitação pública em larga escala no Paquistão. O complexo levou em consideração o modo de vida típico da comunidade local. Para atender às suas necessidades específicas, Lari incluiu terraços a céu aberto em cada nível, permitindo que os moradores cultivassem hortaliças e criassem galinhas, uma das principais preocupações expressadas pelas mulheres da região quando o projeto foi apresentado. Ruas estreitas para pedestres e passarelas elevadas garantiram um espaço seguro para as crianças brincarem, inspirando-se nas cidades muradas medievais do Paquistão. O empreendimento acomoda 787 unidades habitacionais para famílias de baixa renda, distribuídas em aglomerados de 14 unidades, formando blocos de um, dois e três pavimentos.
Centro de Finanças e Comércio, Karachi, Paquistão, 1983-89
A sua carreira na Lari Associates incluiu vários projetos de grande escala desenhados para refletir o crescente status econômico do país. Um deles é o Finance and Trade Center em Karachi, desenvolvido em parceria com a arquiteta canadense Eva Vecsei. Enquanto o projeto apresenta materiais e técnicas de construção modernas, a arquiteta também incluiu métodos tradicionais de resfriamento e ventilação a fim de trazer ar fresco para a vasta rede de pátios interconectados, reduzindo assim a necessidade de ar condicionado.
Casa do Petróleo do Estado do Paquistão, Karachi, Paquistão, 1985-91
Projetada para se tornar um marco para a maior empresa de petróleo do país na época, a edificação possui duas alas conectadas por um átrio de cinco andares revestido de vidro refletivo. O grande complexo inclui mais de 51.000 metros quadrados de escritórios distribuídos em dez andares. A arquitetura utilizou tecnologias modernas, como elevadores panorâmicos.
Casa Lari, Rua Gizri, Paquistão, 1982
Ao projetar sua própria casa em 1982, Yasmeen Lari optou por uma expressão brutalista usando pilares esculturais e balanços em concreto aparente. A casa foi projetada para abrigar um ateliê utilizado pelo casal para realizar pesquisas e documentar o patrimônio local, juntamente com um grande acervo de livros, fotografias, croquis, jornais e revistas coletados pelo casal em seus esforços de preservação, conforme descrito por Suhail Zaheer Lari, marido de Yasmeen Lari.
Abrigos Carbono Zero, Paquistão
Desde que se aposentou oficialmente de seu escritório de arquitetura em 2000, Yasmeen Lari dedicou seu tempo e perspicácia à preservação do patrimônio construído, tornando-se conselheira nacional da UNESCO para o Patrimônio Mundial Lahore Fort em 2003 e ao fortalecimento de comunidades marginalizadas. Em 2005, um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o Paquistão com efeitos devastadores. Isso levou Lari a usar sua experiência para ajudar as comunidades afetadas a reconstruir suas vilas. Usando técnicas e materiais indígenas como terra, pedra e madeira, Lari e uma equipe de voluntários trabalharam com os moradores locais para ensiná-los a construir estruturas melhores e mais seguras. Os volumes resultantes não são apenas econômicos, mas também ecológicos e resistentes a terremotos e inundações. Até 2014, mais de 40.000 abrigos de carbono zero foram construídos em áreas afetadas por desastres naturais.
Centros Comunitários, Paquistão
O trabalho humanitário de Yasmeen Lari também inclui a construção de edifícios comunitários maiores e centros para mulheres em várias vilas de Sindh, reconhecendo as necessidades das mulheres por espaços sociais fora de casa e ainda separados das áreas públicas. As estruturas também são uma resposta à crescente ameaça de destruição climática, já que o Paquistão está entre os dez países mais afetados pelo clima. Onde o risco de inundação é alto, as estruturas são construídas sobre palafitas, proporcionando um abrigo seguro durante as cheias. As estruturas são muitas vezes feitas com armações de bambu cruzadas preenchidas com terra. Uma ampla varanda oferece sombra, enquanto a parte inferior da estrutura pode ser adaptada para salas de aula ou lojas. O centro também oferece espaço para que as pessoas compartilhem ensinamentos nas “empresas de pés descalços”, o conceito de Lari para disseminar conhecimento e capacitar comunidades para a autoconstrução.
O Chulah paquistanês (fogão)
Além das ameaças impostas pelo clima, as mulheres nas áreas rurais também enfrentam desafios diários por serem as principais encarregadas de cuidar de suas famílias. Os métodos tradicionais de cozimento no sul da Ásia envolvem chamas abertas, muitas vezes em espaços confinados, expondo as mulheres a queimaduras, incêndios e problemas respiratórios ameaçadores, bem como problemas digestivos, pois a comida pode ser facilmente contaminada. Em resposta a isso, Lari desenvolveu um fogão de barro e cal sem fumaça e de baixo custo. Elevada em uma plataforma de tijolos de barro, a estrutura é segura para o uso e fácil de ser construída, além disso, ela oferece uma área de preparação de alimentos mais higiênica e é resistente a inundações. O design ecológico também usa apenas metade da quantidade de combustível normalmente necessária e pode funcionar com resíduos agrícolas de queima limpa. Lari descreve outro resultado inesperado: a plataforma elevada do fogão também elevou o status social e a autoestima das mulheres que a utilizam. Desde 2014, mais de 60.000 fogões foram construídos, melhorando a vida de mais de 400.000 pessoas.
Makli Ecossistema de Pés Descalços, 2019
Os chulahs, os abrigos de carbono zero e centros comunitários, todos esses projetos não foram construídos diretamente por Yasmeen Lari, mas pela população local seguindo seu “Modelo de Empreendedor Descalço”. De acordo com o Guardian, um grupo de mulheres foi treinado para construir os fogões pela Heritage Foundation of Pakistan, que fornece os materiais básicos, conhecimento e orientação. As empresárias descalças treinadas, então, se mudam para outras aldeias, ensinando mulheres a construir e cobrando cerca de £ 2 pelo serviço de capacitação. Isso cria uma cadeia de artesãs que podem monetizar suas habilidades recém-adquiridas enquanto enriquecem outras comunidades. Em 2019, Lari organizou 8 comunidades perto de Makli em um “ecossistema de pés descalços”, com cada vila focando em uma necessidade específica: uma constrói estruturas de bambu outra telhados de palha ou tijolos de cal e barro, formando assim um modelo autossustentável e holístico.
Centro Cultural Carbono Zero Makli 2015-19
De acordo com o desenvolvimento do “ecossistema de pés descalços”, Lari transformou um campus de quatro acres em Makli em um espaço para treinar artesãos de comunidades próximas. A estrutura principal, um pavilhão com telhado de palha, é murada com telas decorativas de bambu, proporcionando um colorido espaço de socialização para oficinas e encontros. Jovens e mulheres se reúnem aqui para aprender uma variedade de técnicas, desde a construção de abrigos até a fabricação de tigelas de terracota, sabonetes naturais ou banheiros ecológicos com compostagem. O local também inclui pousadas, um escritório e um World Habitat Center, já que se encontra próximo à uma necrópole listada pela UNESCO como monumento funerário patrimonial da província de Sindh.
Mesquitas da Bienal de Arte Islâmica, Jeddah, Arábia Saudita, 2023
Para a edição de 2023 da Bienal de Arte Islâmica, Yasmeen Lari criou um trio de mesquitas desmontáveis em resposta à orientação da curadora Sunayya Vally de projetar estruturas reutilizáveis. Cada estrutura, inteiramente feita de bambu, contém um espaço central de oração coberto por uma cúpula. Segundo os arquitetos, essas estruturas são criadas para oferecer um espaço acolhedor, criando uma conexão com o espírito das mesquitas tradicionais, mas demonstrando um uso racional de materiais sustentáveis empregados de forma contemporânea.
Fonte: Archdaily