Postado em 5 de agosto de 2024 por sn-admin
Músicos, publicitários e chefs renomados são apenas alguns dos profissionais que, inicialmente, encontraram inspiração e formação na arquitetura. Muito além de projetar edificações, a arquitetura promove uma visão abrangente do espaço, da estética e da funcionalidade, habilidades valiosas em diversas áreas. Arquitetos são treinados para pensar de maneira criativa e resolver problemas complexos, aplicando essa expertise ao desenvolvimento de projetos de todos os tipos. Com a ajuda da tecnologia e ferramentas de Inteligência Artificial, esse campo pode se expandir ainda mais. O desenvolvimento urbano contemporâneo, em particular, enfrenta desafios complexos que exigem soluções inovadoras. Um exemplo de incursões de arquitetos em áreas distintas do cotidiano no desenho ou canteiro de obras é o Grupo OSPA, sediado em Porto Alegre, que apesar de ter começado como um escritório de arquitetura, ao longo dos anos, evoluiu para incluir três atividades verticais principais, cada uma desempenhando um papel crucial no desenvolvimento urbano: o Responsive Cities Institute, Urbe.me e Place.
Com a Place, podemos analisar uma região e identificar o lote de interesse, conhecendo desde o início a legislação urbanística a ele aplicada, o valor do Valor Geral de Vendas final e os custos das obras, realizar um estudo de vocação para o empreendimento a partir do Instituto Cidades Responsivas, desenvolver o projeto arquitetônico com a OSPA Arquitetura e Urbanismo, que pode ser financiado ou já concebido para a gestão por um fundo, o que é viabilizado pela Urbe.me.
Conversamos com Flavia Tissot, mais especificamente sobre a plataforma Place, da qual ela é fundadora e COO. A Place nasceu de uma necessidade interna da OSPA Arquitetura e Urbanismo: entender detalhadamente a legislação e os dados de mercado para evitar erros nos estudos de viabilidade. “Muitas vezes, desenvolvíamos todo o partido arquitetônico de um projeto apenas para descobrir depois que o terreno estava em uma área contaminada ou sujeita a restrições específicas,” ela explica. A plataforma busca mitigar esses erros, eliminando a necessidade de consultas extensivas a leis e regulamentos, permitindo que arquitetos e urbanistas se concentrem exclusivamente no desenvolvimento do projeto.
A ideia inicial do Place era mitigar erros e eliminar a necessidade de consulta às inúmeras leis, decretos e anexos necessários para se obter todas as informações relativas a um terreno ou imóvel e, dessa forma, focar o nosso tempo de fato no que mais importava: o desenvolvimento do projeto. Nossa equipe é formada integralmente por arquitetos e urbanistas, desde programadores e designers até a COO, o que nos traz clareza sobre as necessidades do nosso cliente.
Para tal, oferece uma série de funcionalidades que facilitam o desenvolvimento urbano:
Simulação de Volumetria: Permite que os usuários selecionem um terreno e recebam, em tempo real, informações sobre a legislação aplicável, como coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação e altura máxima permitida. A visualização 3D facilita a compreensão dos recuos necessários e do potencial construtivo do terreno, ajudando a eliminar terrenos inviáveis e minimizar erros no projeto.
Centralização de Informações: A plataforma reúne dados de diversas fontes, desde legislação até dados de mercado e urbanísticos, proporcionando uma visão integrada que facilita a tomada de decisões.
Apoio ao Setor Público: Secretarias de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Econômico podem utilizar a ferramenta para orientar empresários e cidadãos, agilizando o acesso às informações necessárias para aprovação de projetos e novos empreendimentos. “Nosso objetivo é tornar o processo de aprovação mais transparente e eficiente para todos os envolvidos,” acrescenta Flávia.
Basicamente, é como fazer um “pente fino” na legislação para verificar todas as possíveis restrições que possam ser aplicadas ao lote. Depois disso, o sistema calcula as áreas que poderão ser construídas, determinando o potencial construtivo do terreno. No entanto, conhecer a área que poderá ser construída é apenas parte do processo. É necessário também entender se ela realmente cabe no terreno disponível, e é nesse ponto que a simulação volumétrica 3D é importante.
Impactos e Resultados Notáveis
Além das funcionalidades para a compreensão de dados urbanos e possibilidades construtivas de terrenos, a plataforma já demonstrou seu valor em algumas situações críticas. Durante as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, a plataforma disponibilizou dados fundamentais, como áreas de risco de inundação, estradas bloqueadas e localização de abrigos, ajudando a população a encontrar áreas seguras e orientando as ações do poder público. “A Place foi essencial para coordenar os esforços de emergência durante as enchentes, fornecendo informações precisas e atualizadas.”
Identificamos 3.103 imóveis pertencentes ao governo do estado que poderiam abrigar desalojados, assim como outros 15,6 mil que estavam à venda com valores de até R$ 220 mil e que poderiam ser comprados pelo poder público para o mesmo fim. Essas ações possibilitaram que as pessoas tomassem conhecimento de até onde a água poderia chegar e buscassem áreas seguras. Além de favorecerem com que o resto do país entenda o tamanho da tragédia, esses dados serviram para orientar as ações do poder público no socorro aos que foram afetados.
Além disso, a Place foi utilizada para apoiar a revisão do Plano Diretor da cidade de Porto Alegre, organizando e simplificando grandes volumes de dados urbanos. “Nosso mapeamento trouxe uma visão clara de lançamentos imobiliários, localização de escolas e hospitais, trajetos de linhas de ônibus e vias com maior número de acidentes de trânsito, entre outros dados,” o que foi providencial para auxiliar as decisões do futuro da cidade.
Incorporando inteligência artificial para aprimorar seus serviços, a empresa recentemente lançou o Chat Plano Diretor da cidade de Florianópolis, que utiliza IA para responder perguntas sobre a legislação urbanística de forma acessível tanto para profissionais quanto para cidadãos. “A ferramenta apresenta as determinações da legislação, ajudando os profissionais a tomar decisões informadas, simplificando o acesso à informação e tornando o planejamento urbano mais eficiente.”
A Place também planeja expandir suas funcionalidades, incluindo novos filtros e dashboards, e acelerar a implementação da plataforma em novas localidades. “Queremos levar nossas soluções a outras cidades no Brasil e no exterior, tornando-nos protagonistas no desenvolvimento de tecnologias urbanas avançadas,” afirma Flávia. “Nosso objetivo é transformar a maneira como entendemos e planejamos as cidades, criando ambientes urbanos mais inteligentes e sustentáveis.”
Com a Place, é possível monitorar e analisar uma vasta gama de dados, permitindo um acompanhamento ágil do comportamento urbano. Isso facilita a correção rápida de políticas urbanísticas e pode até influenciar a forma como as legislações são concebidas, como a revisão dos planos diretores, que muitas vezes são negligenciados. Em situações de catástrofes ambientais, por exemplo, o uso de dados precisos e atualizados pode orientar as ações do poder público de maneira eficaz e imediata, tornando as cidades mais resilientes e adaptáveis às mudanças.
É fundamental reconhecer o impacto significativo que iniciativas como a Place podem ter na transformação das cidades em ambientes mais inteligentes e sustentáveis. Segundo Flávia, “Acreditamos firmemente que o protagonismo dos usuários e o acesso facilitado à informação são essenciais para a evolução urbana,”. A missão da Place é otimizar o planejamento urbano ao capacitar agentes como o mercado e o poder público com dados claros e interpretáveis. Este é um excelente exemplo de como a tecnologia pode ser uma aliada dos arquitetos, permitindo-lhes focar na criação de cidades e espaços mais agradáveis e funcionais e, ao liberar o tempo dos profissionais para a inovação e o design, pode contribuir para um futuro urbano que ansiamos ser mais eficiente e bem planejado.
Fonte: Archdaily
