Postado em 4 de novembro de 2020 por sn-admin
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 e fazem parte de uma agenda mundial que visa a implementação de políticas públicas para guiar a humanidade até 2030, rumo a um futuro sustentável.
Segundo a própria organização, eles são um apelo global para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima, garantindo que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. São abordadas, portanto, diferentes temáticas como saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, padrões sustentáveis de produção e de consumo, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, entre outras.
O ambiente construído se relaciona intrinsecamente com cada um dos 17 objetivos, tornando-se um componente fundamental na concretização desse futuro sustentável. Desenvolvido coerentemente, ele pode significar a materialização de soluções que contribuem diretamente para a construção de comunidades sustentáveis e com qualidade de vida, seja por meio do programa que abriga, da forma construtiva ou da simbologia que representa.
A seguir, apresentaremos alguns projetos que ilustram a contribuição da arquitetura e do urbanismo para a concretização de cada um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
1. Erradicação da Pobreza
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares, implementando medidas e sistemas de proteção social adequados para os mais pobres e vulneráveis. Nesse sentido, a arquitetura propriamente dita pode não auxiliar diretamente na erradicação da pobreza, mas contribui na qualidade de vida dos mais vulneráveis possibilitando o acesso a direitos básicos como habitação e educação dignas. A escola-moradia Canuanã, feita por Rosenbaum® + Aleph Zero é um exemplo importante do papel transformador da arquitetura nesse ODS oferecendo não somente uma infraestrutura digna, mas principalmente potencializando a ideia de pertencimento dos alunos em relação ao espaço.
2. Fome zero e agricultura sustentável
Erradicação da fome, o alcance da segurança alimentar, melhoria da nutrição e promoção da agricultura sustentável. O ambiente construído, neste caso, pode assumir um papel não somente na preservação da paisagem e proteção do ecossistema, mas também na expansão de áreas para produção de alimentos, como o caso da Nature Urbaine, a maior fazenda urbana da Europa construída em uma cobertura. São 14 mil m² que contribuem para a criação de vínculos sociais, reconexão com a natureza, conscientização de uma alimentação melhor, biodiversidade e criação de empregos verdes.
3. Saúde e Bem-Estar
Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. É claro o papel de todo e qualquer ambiente interno na qualificação do espaço e no bem-estar do usuário, porém, há ainda, projetos que carregam também em seu programa uma função especial na potencialização da saúde e qualidade de vida como o caso do Centro para Gestantes do MASS Design Group. Projetado no pequeno país de Malawi, esse centro procura reduzir a mortalidade materna oferecendo abrigo e acompanhamento às gestações mais vulneráveis.
4. Educação de qualidade
Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
As escolas e espaços educacionais são uma parte crucial no nosso investimento para o futuro. O arquiteto Francis Keré é um expoente quando se fala em levar a educação até lugares remotos. Seu trabalho nas comunidades vulneráveis africanas como o campus educacional para a Fundação Mama Sarah Obama no Quênia ou a Escola Primária em Gando representam a democratização do acesso à educação contando ainda com a colaboração da comunidade na promoção da cultura sustentável local.
5. Igualdade de gênero
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e jovens. Segundo a ONU, a igualdade de gênero não é apenas um direito humano fundamental, mas uma base necessária para um ambiente pacífico, próspero e sustentável. Nesse sentido, são ressaltados projetos que possibilitam a inclusão social e econômica da população fragilizada como a Academia Girl Move do ROOTSTUDIO + Paz Braga, representando um novo modelo educacional que busca empoderar mulheres em contextos vulneráveis.
6. Água potável e saneamento
Garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos. Neste ODS a arquitetura assume um importante papel na contribuição para a coleta e purificação da água da chuva, como o Centro de tratamento d’água WaterHall de Orient Occident Atelier. Entretanto, alguns edifícios são também ativadores educacionais, ensinando sobre a conscientização do uso da água como é o caso da Estação de Tratamento de Água Solrødgård de Henning Larsen que visa abrir o diálogo com a comunidade sobre o uso de recursos e a conscientização ambiental, criando um apelo público dentro de uma infraestrutura municipal.
7. Energia limpa e acessível
Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos.
A energia em si é essencial para a realização dos processos cotidianos, representando também um grande desafio ambiental no mundo de hoje. A Usina de Biomassa de Matteo Thun & Partners é um claro exemplo de projeto contemporâneo que ressignifica o consumo energético com o uso da biomassa, gerando energia extra para até 1.450 casas geminadas de um bairro próximo.
8. Trabalho decente e crescimento econômico
Promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos.
O Centro de Capacitação Indígena Käpäcläjui projetado por Entre Nos Atelier, representa um impulsor para o desenvolvimento de projetos locais sustentáveis e em harmonia com o entorno. Ele possibilita a capacitação profissional de uma população vulnerável fazendo parte de um sistema estratégico de integração rural para o fortalecimento comunitário.
9. Indústria, inovação e infraestrutura
Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
A indústria da construção é um dos segmentos que mais consome recursos naturais e energia no mundo hoje em dia. Falar sobre um futuro sustentável é, inexoravelmente, falar também sobre produção industrial sustentável. Nesse quesito, vale destacar o projeto do BIG para fábrica de móveis norueguesa Vestre que, quando construído, será o primeiro edifício industrial na região nórdica a alcançar o BREAM Outstanding, a mais alta certificação ambiental do país.
10. Redução das desigualdades
Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
No conceito amplo, a redução das desigualdades no ambiente construído pode se desenvolver em diversas formas e escalas como na criação de espaços urbanos acessíveis para pessoas com deficiência, nos projetos de inclusão e capacitação profissional, nas moradias sociais, etc. Dentre todas vertentes que poderiam ser exploradas neste ODS, um dos seus principais focos é o desafio contemporâneo das migrações e fluxos de refugiados. Nesse sentido, os projetos humanitários de Shigeru Ban são excelentes exemplos de estruturas emergenciais desenvolvidas para acolher e proteger refugiados ou desabrigados.
11. Cidades e comunidades sustentáveis
Tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Segundo previsões, até 2050 mais de 60% da população mundial viverá nas cidades fomentando o crescimento do ambiente urbano. Sendo assim, a urbanização, mobilidade, gestão de resíduos sólidos e saneamento estão incluídos nas metas de um futuro sustentável como essenciais para esse desenvolvimento saudável. Neste sentido, o exemplo apresentado aqui é um caso bem sucedido de planejamento urbano que, ao longo de uma implementação gradual, possibilitou a criação de um bairro inteiramente sustentável em Estocolmo, Suécia.
12. Consumo e produção responsáveis
Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis. A redução da geração de resíduos é um ponto crucial para o desenvolvimento sustentável da indústria civil. Para tal, muito se tem explorado sobre novos materiais e estruturas construtivas que permitam uma construção mais limpa e sustentável. O Pavilhão do Povo de bureau SLA + Overtreders W é um exemplo interessante já que se define como uma declaração da nova economia circular, uma edificação 100% cíclica onde nenhum material de construção foi desperdiçado, representando uma esperança para o futuro da indústria construtiva.
13. Ação contra a mudança global do clima
Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.
Além de nos dedicarmos à criação de novos projetos ambientalmente conscientes, é importante entendermos nosso papel também na readaptação de espaços já construídos, levando em conta as mudanças climáticas que já estão em curso. Como exemplo de projeto que atinge este objetivo está o Parque Manancial de Águas Pluviais por Turenscape que transforma o pântano em uma “esponja verde” – um parque de águas pluviais urbanas, não só salvando o ecossistema com risco de extinção, mas também fornecendo um espaço verde para a nova comunidade urbana do seu entorno.
14. Vida na água
Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. A indústria da construção é um grande poluente do ambiente marítimo, assim como os próprios assentamentos próximos das margens e orlas, dessa forma, projetar nessas condições requer muito cuidado e estudo. Entretanto, quando bem elaborado, o projeto pode representar um enorme ganho cultural e educativo para a região, como é o caso do Centro de Visitantes na Islândia de Andersen & Sigurdsson Architects que atende às necessidades dos pescadores e autoridades portuárias, além de ser um ponto focal para os turistas.
15. Vida terrestre
Proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres. Assim como a relação com a água é um ponto delicado na implementação de um projeto, sua inevitável interferência no solo também se torna um ponto crucial para a arquitetura e urbanismo. Nesse sentido, o projeto para o EVOA – Centro de Interpretação Ambiental de Maisr Arquitetos, reflete não somente uma delicadeza ao tocar e interferir no solo como serve também como instrumento para educação ambiental.
16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes
Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis. Edifícios de caráter público são importantes em uma sociedade justa e pacífica fortalecendo a responsabilidade do Estado na vida de cada habitante e a sua arquitetura deve representar tal condição. Um exemplo é a Corte Regional e Tribunal Industrial de Montmorency de Dominique Coulon & Associés, na França, que tem como tema a justiça acessível sendo um edifício público aberto e sem ostentações, bem costurado ao tecido urbano.
17. Parcerias e meios de implementação
Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. A implementação de cada um dos 17 ODS só poderá ser viabilizada se contar com um esforço coletivo em prol do futuro sustentável do planeta. As cidades, da mesma forma, são construídas por muitas mãos nas quais a coletividade é fundamental perante os esforços individuais. Para finalizar essa jornada pelos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, apresentamos aqui uma série de iniciativas civis que dizem respeito ao último ODS da lista nos fazendo renovar a esperança em um mundo melhor e lembrar do poder contido também nas pequenas ações.
Fonte: ArchDaily