🏙️ Negócio milionário desfeito: os bastidores da desistência da Tecnisa na venda de terrenos à Cyrela

Postado em 19 de novembro de 2025 por

A construtora Tecnisa (TCSA3) decidiu interromper as negociações para a venda de sete terrenos no Jardim das Perdizes, zona oeste de São Paulo, para a Cyrela, após custos inesperados tornarem o negócio inviável. A transação, avaliada em mais de R$ 500 milhões, poderia envolver terrenos com potencial para 8 a 10 torres, somando um VGV (Valor Geral de Vendas) estimado em R$ 3,5 bilhões.

O CEO da Tecnisa, Fernando Tadeu Perez, explicou à Exame que, apesar do diálogo amistoso entre as empresas, o avanço das tratativas revelou despesas adicionais que reduziriam significativamente o valor líquido a ser recebido pela companhia.

> “Durante as negociações, começaram a surgir custos que tornavam a transação muito menos vantajosa”, afirmou Perez.

### 💰 Custos que inviabilizaram o acordo

Entre os principais entraves, estava a estrutura jurídica da operação proposta pela Cyrela, que acarretaria um imposto de cerca de R$ 63 milhões para a Tecnisa.
Além disso, a empresa precisaria demolir o próprio estande de vendas, localizado em um dos terrenos, para que a Cyrela construísse o seu — um processo que envolveria indenização de R$ 5 milhões ao restaurante instalado no local, além de mais R$ 5 milhões para erguer um novo estande em outro lote.

Outro custo significativo estava relacionado aos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), usados pela Tecnisa para viabilizar o empreendimento. Parte desses títulos foi financiada via CRIs. A Cyrela exigiu a quitação antecipada da dívida de R$ 30 milhões, o que ainda geraria uma multa de R$ 3 milhões.

> “A soma desses valores tornou o negócio menos atrativo para nós. A Cyrela agiu corretamente em suas exigências, mas percebemos que não fazia mais sentido seguir”, afirmou o CEO.

### 🏗️ O bairro planejado e o peso histórico do projeto

O Jardim das Perdizes é considerado um dos maiores projetos imobiliários de São Paulo. Lançado em 2011 pela Tecnisa, em uma área de 250 mil metros quadrados na antiga Barra Funda, o empreendimento destinou 45% do terreno à Prefeitura para obras públicas, áreas verdes e vias de acesso.

A área original foi adquirida em 2007, da Telefônica, por R$ 133 milhões, e projetada para abrigar 30 torres residenciais e comerciais.

Até o momento, 17 edifícios já foram entregues, e a empresa ainda planeja erguer uma torre comercial em um lote que permanece sob seu controle.

### 📈 O futuro da Tecnisa

Apesar de a venda frustrada representar uma perda potencial de caixa, Perez garante que a empresa seguirá com seu planejamento estratégico:

> “Vamos continuar lançando e pagando nossas dívidas. Talvez demore um pouco mais — uns três anos —, mas seguimos firmes”, afirmou.

O executivo não descarta novas negociações, inclusive com a própria Cyrela, caso haja interesse em adquirir apenas parte dos terrenos.

> “As portas continuam abertas. Tudo depende do valor e das condições”, completou.

O episódio revela os desafios do mercado imobiliário em grandes operações corporativas, onde a complexidade jurídica, custos ocultos e impostos podem transformar um acordo milionário em um negócio inviável.

Mesmo com o impasse, a Tecnisa segue apostando em projetos de alto padrão e estratégias de longo prazo, mantendo-se como uma das principais incorporadoras do mercado brasileiro.

Fonte: Exame